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Xiaomi abre loja física em São Paulo e atrai milhares de fãs

Inauguração de loja teve promoções agressivas, brindes e fila que dava voltas no quarteirão em torno do Shopping Ibirapuera, em São Paulo; chinesa tem desafio de sair de nicho no País

1 jun 2019 - 13h49
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Tem gente que gosta de chegar cedo para um evento especial - mas que tal quase dois dias antes? Desde a tarde da última quinta-feira, cinco pessoas acamparam ao relento na frente do Shopping Ibirapuera, em São Paulo. Para estar lá, um rapaz suspendeu as aulas de música na escola em que é professor. Outro fez home office direto da praça de alimentação do shopping, trabalhando durante o dia enquanto os amigos guardavam lugar na fila. Em suas mochilas, um suprimento invejável: troca de roupas, frutas, bolachas, cápsulas de cafeína e até um cantil de água de 10 litros. Mas eles não estavam ali para ver um artista pop ou comprar um iPhone novo em folha: a razão da espera era conhecer, antes de qualquer um, a primeira loja física da fabricante chinesa Xiaomi no Brasil.

Na manhã deste sábado, quando a loja finalmente abriu, havia uma fila de mais de mil pessoas, dobrando quarteirões em torno do shopping em Moema, na zona sul da capital paulista. Elas estavam interessadas em conhecer os produtos da quarta maior fabricante de smartphones do mundo, ganhar brindes e ter descontos agressivos. Para promover os lançamentos, a chinesa vendeu o Mi 9, seu smartphone topo de linha, por R$ 2,8 mil, bem abaixo dos R$ 4 mil cobrados normalmente. O estoque promocional durou apenas 40 minutos. Além de celulares, a empresa também trouxe ao Brasil um portfólio que beira a centena de produtos, incluindo robôs aspiradores de pó, patinetes elétricos, drones e equipamentos para a casa conectada.

Para estar no mercado brasileiro, a Xiaomi fechou uma parceria com a fabricante de eletrônicos DL, de Santa Rita do Sapucaí (MG), que cuidará de distribuição e vendas dos aparelhos no País. Por enquanto, os produtos serão importados da China, mas não estão descartados planos para fabricação local a longo prazo. "Queremos mostrar a experiência Xiaomi para os brasileiros: a ideia é que o consumidor use o smartphone, mas também uma pulseira inteligente ou um robô, de forma integrada", diz Luciano Barbosa, diretor de produtos da DL e líder do projeto da Xiaomi no País.

Não é a primeira vez que a empresa entra no mercado brasileiro: já esteve aqui em 2015, mas acabou engolida pela competição e por erros de estratégia, como vender produtos apenas em seu próprio site. Apesar dos resultados ruins, a empresa deixou uma boa impressão para um nicho de usuários - um público que gosta de tecnologia e de pagar pouco, na comparação com marcas como Samsung, Apple e Motorola. "Enxergamos que aqui no Brasil havia um público muito identificado com a marca e foi a percepção dessa oportunidade que nos trouxe até aqui", explica Barbosa, ao Estado.

'Amo mais a tecnologia'

É gente como o estudante de tecnologia da informação Rodrigo Libório, de 33 anos, que levou o cantil de 10 litros de água. Primeiro da fila, ele chegou a passar mal durante a madrugada por conta do cansaço - mas não arredou pé. Ao final da jornada, na qual passou frio e tomou chuva de granizo, Libório adicionou um fone de ouvido Bluetooth à sua coleção de cerca de 10 produtos da Xiaomi. Além do celular, também tem uma pulseira inteligente, caixas de som e até uma panela elétrica.

Para o estudante, sua ligação com a marca vai além do que ele sente, por exemplo, por um artista pop. "Gosto muito do Elvis Presley, mas não acamparia desse jeito por ele", diz o rapaz, que leva um discreto topete em sua cabeleira. "Amo mais a tecnologia."

Não foi só Libório que sofreu. Seu irmão, Henrique, que trabalhou direto da praça de alimentação do shopping, também teve de lidar com as condições meteorológicas adversas. Além disso, viu a tela de seu celular Mi 8 Lite lascar ao cair no chão, enquanto ele participava de uma das brincadeiras feitas por animadores contratados pela Xiaomi para entreter os presentes. Na manhã do sábado, o cansaço e o novo defeito desanimaram o rapaz.

Culto online

Os dois fazem parte de um culto cujas raízes são digitais: no Facebook, grupos de fãs com informações sobre a marca chegam a quase 120 mil pessoas. No YouTube, influenciadores - alguns deles em parcerias com lojas online chinesas - também trazem análises e informações sobre os produtos da Xiaomi, em vídeos que, não raro, batem a marca de 500 mil visualizações. No exterior, apostar em marketing não tradicional é uma das armas da Xiaomi, diz Tuong Nguyen, analista da consultoria Gartner - segundo ele, as redes sociais e os grupos de fãs servem como "megafones" dos produtos da empresa.

Até o retorno oficial da Xiaomi ao Brasil, porém, usuários importavam os produtos de marketplaces ou então compravam em lojas não autorizadas no País - os aparelhos, como se pode supor, não recebiam homologação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ao Estado, a Anatel afirmou que a situação desses dispositivos é irregular: mesmo se eles receberem alguma homologação nos EUA ou na Europa, é necessária uma certificação nacional, por questões de segurança. De acordo com estimativa da consultoria IDC Brasil, o mercado cinza representa quase 5% das vendas de smartphones no País.

A volta oficial da chinesa ao País não significa que a operação "ilegal" vá acabar. Pelo contrário. Na internet, muita gente fez piada dos preços oficiais da Xiaomi por aqui, bem acima do que é encontrado em marketplaces. O Mi 9, por exemplo, pode ser encontrado por R$ 2 mil na loja chinesa Gearbest - metade do valor sugerido no País. "A maior briga das chinesas no Brasil será contra elas mesmas", afirma Renato Meirelles, analista do mercado de celulares da IDC Brasil.

Os desafios da Xiaomi

Além de lutar contra si mesma, a Xiaomi também terá de convencer o consumidor brasileiro que não é uma marca "xing-ling". Por conta disso, a empresa está investindo em parcerias com o varejo físico. "O consumidor brasileiro gosta de pegar o produto na mão", avalia Barbosa. A abertura da loja própria, com uma equipe de 30 funcionários fãs de tecnologia, também vai nesse sentido.

Outro desafio será sair do "clubinho de fãs" e se tornar conhecida para o público em geral - em levantamento recente da IDC com consumidores do País, a chinesa foi lembrada por menos de 1% dos entrevistados. É algo que pode ser sentido ao vivo: dias antes da inauguração da loja, a reportagem do Estado esteve no Shopping Ibirapuera, onde muita gente passava pela fachada do estabelecimento e dizia não conhecer o nome Xiaomi.

Questionado sobre o tema, Barbosa reconhece que é uma missão de longo prazo. "Quando o usuário estiver com o smartphone há dois anos e perceber que ele tem uma bateria boa e não está travando, ele vai sentir que conhece a marca. É uma questão de tempo", diz o executivo.

Na primeira manhã da loja física da Xiaomi no Brasil, porém, a sensação era de que os presentes eram os bons e velhos fãs da chinesa - havia gente até com o logotipo da empresa pintado no rosto. Saber se os brasileiros, no entanto, vão levar o símbolo laranja da fabricante em seus bolsos, é outra história.

*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas

Estadão
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