99 completa 10 anos de Brasil e aposta no potencial do BYD D1
300 carros elétricos até o final deste ano e 10 mil em 2025 é a meta da 99, que lidera uma aliança pela transformação da mobilidade urbana
O setor de serviços por aplicativo tem crescido cada vez mais em importância na economia global, e o Brasil não fica de fora desse cenário. Segundo um estudo da Fipe, só o uso da 99, maior empresa brasileira do setor e concorrente da Uber, injetou mais de R$ 54 bilhões na economia nos últimos 10 anos – sendo R$ 45 bilhões apenas no período de 2019 a 2022.
A maior parte desse dinheiro passa pelas mãos dos motoristas parceiros e suas famílias. O setor mais beneficiado por esse capital é o de comércio varejo e atacado. Ao todo, a Fipe calcula que a circulação de recursos via 99 tenha gerado mais de 1 milhão de postos de trabalho indiretos no país em 10 anos.
São números que mostram a relevância do serviço de aplicativos na economia contemporânea. E números que dão peso a uma parceira estabelecida entre diversas empresas de setores distintos em prol da sustentabilidade. A Aliança pela Mobilidade Sustentável reúne, além da própria 99, gigantes como Movida, Unidas, Caoa Chery, Ipiranga, Raízen, Tupinambá Energia e Zletric. BYD e Banco BV se juntaram ao grupo nas últimas semanas.
Eletrificação da frota
Agora a 99 aposta especialmente no potencial de um novo carro chinês. A chegada do BYD D1 ao Brasil é um dos frutos dessa Aliança. No evento em que exibiu o carro, a 99 apresentou seus planos para o futuro, e eles, passam, é claro, por aumentar a frota de veículos elétricos em seus serviços. A ideia é chegar a 300 veículos elétricos até o final de 2022 e a 10 mil em 2025 – ano em que a Aliança estima que esse tipo de automóvel represente 10% das vendas no Brasil.
Para chegar aos 300 carros ainda esse ano, a empresa firmou um acordo com a locadora Movida, que disponibilizará ao menos 50 Nissan Leaf na cidade de São Paulo. O aluguel do carro será parcialmente subsidiado, com apoio do Banco BV. O banco também deve participar da Aliança com o financiamento facilitado de veículos elétricos para motoristas parceiros e na instalação de estações de recarga nas residências de motoristas interessados.
Segundo cálculos da empresa, a economia dos carros elétricos em relação à média dos veículos a combustão chega a 80%. Por isso, mesmo com um valor de aquisição ou de aluguel bem mais alto que o encontrado em carros populares a combustão, a estimativa é que os elétricos aumentem a receita dos motoristas em até 25%. A economia com combustível e manutenção compensaria o valor maior do carro em si.
BYD D1 vai vingar?
O BYD D1 ainda está em fase de testes no Brasil, mas as empresas envolvidas no projeto esperam que ele se torne uma presença cada vez mais comum nos grandes centros – apesar de não haver uma estimativa clara da quantidade de unidades do modelo que se pretende importar.
Empresa de aplicativo, fabricantes, locadoras, bancos e empresas de energia. Todos trabalham em conjunto para que os carros elétricos se tornem uma realidade e entrem de vez na frota das cidades brasileiras. Resta saber se esses carros serão economicamente viáveis para os motoristas. Sem eles, a conta não fecha.
Carro elétrico para uso de aplicativos já roda em São Paulo
Tornar a viagem melhor para motorista e passageiro. Esse foi o mantra do desenvolvimento do D1, carro elétrico da BYD projetado para uso de motoristas de aplicativo. O modelo é um sucesso na China, seu país de origem, e a primeira unidade importada para o Brasil já está rodando por São Paulo pelas mãos da 99, ainda em fase de testes.
A entrada da 99 na história não é um mero acaso. O D1 foi criado pela BYD, na China, em parceria com o grupo Didi Chuxing. A BYD, que começa a construir seu nome no Brasil, é a maior fabricante de carros elétricos do mundo. Já o grupo Didi, gigante do setor de aplicativos, é controlador da 99.
Até o momento, o único D1 em solo brasileiro está rodando em operação de teste na cidade de São Paulo, aos cuidados de motoristas bem avaliados na plataforma 99. Segundo Thiago Hipólito, diretor de inovação da empresa, os feedbacks têm sido bastante positivos. A ideia da 99 é trazer mais unidades do carro a partir dos próximos meses, até consolidar seu uso por aqui.
O D1 foi pensado e construído para bem atender os passageiros, sem esquecer do conforto do motorista. E demonstra ser competente em sua proposta. Mas só o tempo dirá se ele será mesmo uma figurinha carimbada por aqui ou se sua vinda não passou de uma válida (e frustrada) tentativa de rejuvenescer a frota.
Características do BYD D1
O D1 segue a linguagem de design dos irmãos Tan e Han, já comercializados pela BYD no Brasil. Os faróis afilados e compridos guardam semelhança com os dos outros carros da marca, apesar de nenhum deles ser igual. Na lateral, nota-se o efeito de teto flutuante graças a uma faixa preta que começa na coluna C e forma uma faixa única que vai até o outro lado do carro, passando sobre as lanternas. Solução interessante para ligar laterais e traseira.
As dimensões externas do D1 estão num meio termo entre um SUV médio e um médio-grande. O comprimento é de Jeep Compass (4,390 metros), enquanto largura (1,850), altura (1,650) e distância entre-eixos (2,800) são equivalentes às de um Volkswagen Tiguan. O que o diferencia dos SUVs são o piso mais baixo, como em um sedã, e o formato monovolume da carroceira, com capô curto. A ideia é proporcionar o maior espaço interno possível.
E esse objetivo fui cumprido. O espaço no banco de trás é enorme. O piso é completamente plano e, além dos bancos de couro, o passageiro conta com carregadores USB, porta-copos e porta-bolsas instalados na parte de trás do encosto de ambos os bancos dianteiros. Há ainda um suporte para uma tela de entretenimento de cada lado. Os passageiros ainda podem usufruir de saídas de ar-condicionado exclusivas.
O acesso ao banco de trás é facilitado graças a uma porta corrediça de acionamento elétrico, que proporciona grande abertura. Essa porta só está presente do lado direito, o lado da calçada. Na esquerda, a porta traseira é convencional.
Para o motorista, o destaque é um banco diferenciado em relação aos demais, pensado para cansar o mínimo possível em longas jornadas ao volante. Há, ainda, carregadores USB e por indução, porta-óculos e apoio de braço. O acabamento tem plásticos de boa qualidade e partes em couro, que também reveste o volante.
O painel de instrumentos é minimalista: nada além de um velocímetro digital e luzes de aviso. A tela de 10 polegadas montada no centro do painel comanda as diversas funções do carro. No console vazado, botões do seletor de marchas, do modo eco, do modo de baixa aderência e alguns comandos do ar-condicionado.
Os sistemas de auxílio de condução contam com controle de cruzeiro adaptativo, alerta de saída de faixa, freio de emergência automático e auxiliar de partida em rampa. O freio de estacionamento é eletrônico.
Como mencionado, o foco do D1 é no transporte confortável de passageiros. Por isso, não espere desempenho de Tesla (ou de Han) do conjunto elétrico. O motor instalado na dianteira gera 100 kW de potência, o equivalente a 136 cv. O torque é de 180 Nm. O conjunto movimenta apenas as rodas dianteiras, e leva o carro de 1640 kg da imobilidade aos 100 km/h na casa dos 13 segundos, segundo o fabricante. A velocidade máxima é de 130 km/h, comprovando o caráter urbano do veículo.
A autonomia da bateria é de 371 km, o que, segundo Hipólito, é uma distância suficiente para o uso diário da maioria dos motoristas cadastrados na plataforma. Se for necessário rodar mais, o carregamento rápido aumenta a autonomia em 100 km depois de 20 minutos na tomada. A recarga completa demora 9 horas. Com a proliferação dos elétricos, a empresa pretende auxiliar motoristas na instalação e custeio de estações de recargas domésticas.
Por falar em custo, a BYD anuncia o carro em seu site por 270 mil reais. Trata-se de um valor proibitivo para uma imensa parcela dos brasileiros – motoristas de aplicativos inclusos. Ciente disso, a 99 firmou uma ampla aliança com outras empresas e bolou um plano para colocar o D1 (e outros carros elétricos) nas ruas já a partir desse ano.