AUTO ANÁLISE: Existe limite para o atrevido Fiat Mobi?
Como o pequeno Mobi se reinventou, aposentou o clássico Fiat Uno, ultrapassou o Fiat Argo e ganhou uma projeção de design incomum
O pequeno Mobi começa a se tornar um case dentro da Fiat. Nascido no meio da década passada para ser um sucesso de vendas, o Fiat Mobi inicialmente foi um retumbante fracasso. Não reinventou a roda, como prometia a Fiat, e levou uma saraivada de críticas de quase toda a imprensa especializada. Mas o pequeno carro produzido em Betim (MG) reduziu a marcha, passou por modificações, acelerou de novo e renasceu.
Hoje o Fiat Mobi está entre os cinco carros mais vendidos do Brasil. Dentro da Fiat, perde só para a picape Strada. Entre os carros de passeio, está entre os quatro mais vendidos. Entre os hatches, é o terceiro colocado. Entre os subcompactos, é o líder com folga. Mas, para chegar até aqui, o Mobi enfrentou um árduo caminho – contou, inclusive, com o faro comercial do chefão da Stellantis na América do Sul, Antonio Filosa, que não teve medo de aposentar o Fiat Uno.
Carro por carro, o Fiat Uno era melhor do que o Fiat Mobi. Mas Filosa optou pelo potencial do Mobi no valor imaginário. Ou seja: o que o Mobi provoca na mente dos consumidores, justamente por não ser um carro Oompa Loompa, pequeno e comum como os funcionários de Willy Wonka no filme A Fantástica Fábrica de Chocolate. Aposentou o Uno com honras e glórias e aumentou o potencial do Mobi.
O Fiat Mobi nasceu para vender 70 mil unidades/mês. Nunca conseguiu. Mas chegou perto no ano passado, com 65,8 mil emplacamentos, 19 mil a mais do que no ano anterior, depois que a Fiat enxugou as versões, ajustou o preço e apostou na versão Trekking, dando ao carrinho um caráter mais “SUV”. Mas não só isso: a principal jogada foi apostar nas vendas diretas. E também em uma inteligente oferta de equipamentos que faz o Fiat Mobi ser mais interessante do que o Renault Kwid na hora da compra.
Este ano, devido às dificuldades de produção que afetam toda a indústria automobilística, o Fiat Mobi tem uma estimativa de vendas de 56 mil unidades. Se a situação melhorar, pode almejar chegar aos 70 mil. Depende mais de fatores externos (economia e fornecimento de peças) do que da própria Fiat.
Ao se reinventar, o Fiat Mobi se tornou um carro ainda mais "atrevido''. Hoje é capaz de vender mais do que o Chevrolet Onix e o Fiat Argo, dois campeões de vendas dos tempos recentes. Por isso, começam a surgir rumores sobre uma segunda geração do Mobi. Nessa onda, até mesmo projeções incomuns de design começam a surgir. O designer Kleber Silva, por exemplo, apresentou um projeto totalmente diferente para o Fiat Mobi, inspirado no Suzuki Ignis.
A projeção do Fiat Mobi Trekking 2024 “Ignis”, feita por Kleber Silva, evidentemente não será utilizada para a Fiat. Não há associação entre a Fiat e a Suzuki. Mas não é totalmente fora de propósito, considerando que a primeira geração do Fiat Mobi não se prendeu a valores estéticos da marca italiana ao ser criado. Não se trata de uma obra-prima do designer Peter Fassbender, como a picape Fiat Toro. O Mobi foi mesmo um “catado” de outros carros.
A frente foi inspirada nos SUVs da Land Rover. A traseira parece ter sido copiada do JAC J2. A lateral tem as portas do Fiat Uno. O interior traz peças de diferentes modelos da Fiat, inclusive a antiga Toro. É incrível que a Fiat tenha transformado esse carro num sucesso comercial. Mas transformou. E assim “matou” o Volkswagen Up, que chegou ao mercado na mesma época e morreu apesar de ser um carro tecnicamente superior ao Fiat Mobi.
Filosa e seus comandados na Stellantis (especialmente na Fiat) sabem que o aspecto aspiracional de um carro conta mais do que alguns aspectos técnicos – mesmo em modelos pequenos e no segmento de entrada. Sonhar (ainda) não é uma prerrogativa só de ricos e milionários. Por isso o Fiat Mobi faz sucesso.
Sem a incômoda presença do Uno, o Fiat Mobi tem tudo para ganhar uma nova geração. Resta saber se, nesses tempos ultra globalizados, a Fiat vai aderir ao novo paradigma industrial e criar um Mobi II a partir da plataforma CMP da Peugeot-Citroën (também marcas da Stellantis) ou se vai continuar sendo uma pequena criatura frankensteiniana simpática, acessível e diferente de todos os outros carros do mercado.