Brasil dá tiro no pé ao zerar imposto de carro elétrico
Em contundente artigo, Paulo Cardamone, CEO da Bright Consulting, faz duras críticas ao imposto zero para carros elétricos
O Brasil está cometendo um erro histórico ao zerar o imposto para carros elétricos, pois isso beneficia apenas a população de alta renda e afasta as indústrias que poderiam produzir esses carros no país. É o que afirma o especialista Paulo Cardamone, CEO da Bright Consulting, em contundente artigo publicado no boletim da empresa.
Selecionamos 10 trechos do artigo de Paulo Cardamone e reproduzimos abaixo, exatamente como saiu publicado no artigo original, "Indústria automotiva sob risco, se a próxima fase regulatória não for assertiva", para oferecer uma leitura mais ágil aos nossos leitores.
1. A mobilidade usa a infraestrutura que é paga por todo cidadão. O Rota 2030 é um programa de grande valor, mas cometeu um erro importante ao conjugar para estabelecer imposto de importação “zero” para veículos elétricos e taxas de 2 % a 4% para híbridos que hoje só conseguem ser adquiridos por consumidores de altíssima renda que adquirem veículos super premium.
2. Colocaram as fábricas inglesas, alemãs e chinesas no porto de Santos ao custo do frete. Quem pensará em produzir esses veículos aqui se puder trazer de fora com esta equação?
3. Os subsídios são ofertados pelo Estado, mas pagos pelo contribuinte e para os veículos premium, por exemplo, um benefício de 30% a 40% sobre a Tarifa Externa Comum do Mercosul, que é de 20%, seria de muito bom tamanho.
4. A receita deste imposto menor tem que ser adequadamente aplicada como incentivo para P&D e benefícios para a localização de componentes relacionados à eletrificação e compasso financeiro do consumidor brasileiro, ou seja, no desenvolvimento de baterias 48 V, belt-starters, inversores e motores elétricos.
5. Sonhar com uma política semelhante ao Green Deal na Europa e ao 14º Plano Quinquenal da China é alucinação. O artigo de Automotive News de 9 de março último intitulado “É hora de repensar completamente os subsídios para veículos elétricos”, afirma que os mesmos acabarão tendo que resistir ou fracassar por conta própria, sem assistência financiada publicamente, mas os subsídios dos contribuintes devem continuar, com modificações.
6. Os veículos fabricados e vendidos no Brasil desde o Inovar Auto em 2012 e até a qualificação do Rota 2030 agora em Set/22 trouxeram (...) uma economia de combustível de mais de 66 bilhões de reais que foram reintroduzidos na economia em vez de serem queimados nos motores e 40 milhões de toneladas de CO2 que foram deixadas de ser jogadas no meio ambiente.
7. Se acreditamos que o hidrogênio é a energia do futuro, imagine o consumidor abastecendo o veículo com etanol na infraestrutura já instalada dos postos de combustível e andando com um veículo elétrico com quebra do hidrogênio advindo do etanol “on-board”.
8. Mantidas as regras atuais de imposto de importação zero para os carros puramente elétricos a renúncia fiscal em 12 anos atingirá 3,6 bilhões de dólares, ou seja, 6 vezes os 3 bilhões de reais de benefício que suportarão o Inovar e Rota 2030 no mesmo período.
9. Vale a pena? – Com um incentivo de 1 bilhão de reais o Brasil terá em 2030 sua célula a etanol desenvolvida e aplicada aos veículos dos segmentos B, C, Pick Ups e Vans que realmente servem a nossos consumidores, com produção local e viabilidade de exportação da tecnologia e dos veículos.
10. Enquanto as previsões para o mundo apontam para uma eletrificação de 57% das vendas em 2030 com diferentes realidades por região o Brasil terá 29% dos veículos novos vendidos eletrificados ou 650 mil unidades rodando no país que necessitarão de investimento de 8,5 bilhões de reais em infraestrutura de abastecimento. Estes recursos só se viabilizarão se vierem do setor privado.