De carro na França: 2.000 km com a perua Peugeot 308 SW Hybrid
Ao contrário do Brasil, na França as peruas continuam em alta. Veja como foi nossa experiência com o Peugeot 308 SW num roteiro de 2.000 km
Será que ainda vale a pena ter uma perua? Bem, no Brasil, essa possibilidade não existe mais, pois todas foram tiradas de linha, com exceção da maravilhosa (e caríssima) Audi RS6 Avant, que custa mais de R$ 1 milhão. Mas na Europa é diferente. Por isso, fizemos um roteiro de carro na França que caiu como luva para as características de uma station wagon.
Para começo de conversa, eu estava viajando em quatro pessoas e com quatro malas de 23 kg, daquelas que ocupam grande espaço no bagageiro, além de mochilas e bolsas. Em segundo lugar, a França tem estradas ótimas e não estava previsto nenhum trecho off-road. Portanto, por que ficar na mesmice do SUV se podemos matar a saudade de uma perua?
O modelo escolhido foi o novo Peugeot 308 SW GT em sua configuração híbrida plug-in (Hybrid 225 e-EAT8). Assim eu teria oportunidade de avaliar também o uso de um carro eletrificado num país do primeiro mundo. Retirei a perua Peugeot 308 em Paris com o tanque de 40 litros cheio de gasolina e a bateria de 12,4 kWh com carga completa. Daria para rodar 60 km somente no modo elétrico.
O 308 SW estava equipado com um motor 1.6 com injeção direta de 180 cv de potência (132 kW) e um motor elétrico de 110 cv (81 kW). O câmbio era automático de 8 marchas com opção de trocas manuais somente pela borboleta. Com tração dianteira, a perua 308 SW GT 225 e-EAT8 oferece três modos de condução: Power, Hybrid e Electric. Usei o modo Hybrid em 90% do tempo. Ao acelerar o carro, é possível controlar pelo acelerador a rodagem em Power, em Eco ou em Charge (recarregando a bateria).
A nova perua da Peugeot é linda e, para minha surpresa, há muitas nas estradas francesas. Aliás, não só deste modelo, mas também de outras marcas, como Renault, BMW, Mercedes, Toyota, Audi e Volvo. Também havia muitas peruas 308 SW de gerações anteriores. Uma cena curiosa foi quando parei numa área de descanso na estrada e logo em seguida uma perua Renault Mégane Grand Tour, também branca, parou ao lado.
O porta-malas se mostrou muito adequado para a viagem, pois duas malas foram colocadas na posição vertical e duas ficaram na horizontal, uma sobre a outra, todas na longitudinal. Coube ainda (apertado) três mochilas e o kit que vem com o cabo de recarga elétrica. Há ainda dois espaços com redinhas nas laterais que foram úteis. O bagageiro da perua Peugeot tem 548 litros de capacidade.
A perua francesa mede 4,363 m de comprimento. Na França isso é um problema, pois todos os estacionamentos são minúsculos e apertados. Além disso, eles têm as guias elevadas e estreitas, o que aumenta demais o risco de danificar uma roda, devido ao comprimento ao carro. Também é um enorme risco de as extremidades do carro serem danificadas por outros carros que estão do lado nos apertados estacionamentos. Mas no Brasil isso não seria um problema tão grave.
Uma característica dos carros modernos é vir sem estepe. Bem, eu vi na prática como isso pode ser ruim. Um pneu furou na estrada e o jeito foi usar o kit de reparo, que consiste num tubo de cola e num pequeno (mas muito barulhento) compressor que deve ser ligado no tubo, no bico do pneu e no acendedor de cigarro. O conserto foi feito, mas eu ainda teria que rodar mais 150 km e o pneu estava danificado na lateral, o que obrigou a uma compra de emergência. Por falta de sorte, não havia o pneu do modelo original na loja. Então tive que comprar dois pneus das mesmas medidas (225/40 R18 92Y) para que o carro não ficasse com pneus diferentes no mesmo eixo. Isso custou 279 euros.
A perua Peugeot 308 SW é simplesmente maravilhosa ao rodar. Espaçosa, silenciosa, veloz, econômica, confortável e com um comportamento dinâmico excelente. Num trecho longo passei o volante para minha esposa, a fim de descansar um pouco, e ela, que é fã de SUVs por serem mais elevados, gostou da estabilidade do carro nas curvas e disse que mudou seu conceito em relação às peruas.
É muito legal ver peruas rodando nas estradas. Não uma ou duas, mas várias, dezenas, em todos os lugares. As estradas francesas são maravilhosas. Tanto as autoroutes, pedagiadas, quanto as estradinhas secundárias. O pedágio é inteligente, pois há apenas dois por estrada – no início e no fim. Além disso, ficam localizados a 20 ou 30 km das cidades, para que não haja congestionamento. O motorista paga só na saída – no fim da estrada principal ou quando pega uma estradinha secundária. Portanto, cada carro paga apenas a quilometragem que rodou.
Há pontos de recarga em muitos lugares, seja nas cidades ou nas estradas. Mas isso não muda uma situação que ocorre também no Brasil. É difícil depender de carga externa; o melhor é ter em seu domicílio. Num hotel, não havia vagas e tive que esperar 12 horas para conseguir carregar a bateria. O carregador de bordo é de 3,7 kW. Num posto da estrada, o carregador era de um tipo diferente do usado pelo Peugeot 308 (cabo de alimentação de modo 2, plugue T2/EF). No outro, o único que funcionaria estava ocupado. Em outros, era necessário comprar antecipadamente 50 ou 70 euros de recarga (não vale a pena para quem não mora na França).
No final das contas, só consegui dar carga na perua Peugeot 308 SW Hybrid duas vezes, o que foi um pouco frustrante para mim. De qualquer forma, deu para ver que o consumo híbrido é bem baixo. Na cidade, chegou a fazer 25 km/l. Em alguns trechos de estrada a perua híbrida fez 18 km/l de gasolina. Quando rodou só com gasolina, a cerca de 130 km/h na estrada, a perua fez 14,3 km/l. A carga num WallBox 32A de 7,4 kW dura apenas 1h40min.
Como automóvel, o Peugeot 308 SW me agradou em todos os aspectos. O painel é ótimo, a multimídia é excelente, a posição de dirigir é perfeita e o sistema híbrido agradou bastante. A emissão de CO2 é de apenas 26 g/km. Eu consideraria a compra desse carro se tivesse uma família com quatro pessoas (e se ele fosse lançado no Brasil). Na França, na configuração do carro avaliado, o Peugeot 308 SW custa 46.870 euros. Como a moeda brasileira está muito desvalorizada, o valor convertido seria de R$ 236.335.
Para o Brasil, entretanto, a perua seria muito baixa e sofreria nas ruas e estradas brasileiras. Talvez a Peugeot não traga esse carro para o nosso mercado por esse motivo. Talvez este seja também um dos motivos que tenha acabado com o mercado de peruas, e não apenas o desejo por SUVs. A verdade é que, comparado com o França, o Brasil é um enorme território para carros altos. Uma pena, pois a perua Peugeot 308 SW deixaria muita gente feliz em nosso país.
Caso queira fazer o mesmo roteiro quando for visitar a França, inclusive para matar a saudade de uma perua, passamos pelas seguintes cidades: Paris, Fontainebleau, Dijon, Lyon, Genebra (Suíça), Annecy, Tours, Amboise, Chambord e Paris. Não é muito fácil achar uma perua para locar, mas é possível. O litro de gasolina E10 custa cerca de 2 euros. Se for para a Suíça, é preciso comprar uma vignette (tag de colar no vidro) por cerca de 38 euros.
