Ford Maverick chegou. Não é anti-Toro nem mini-Ranger
Inédita picape Ford Maverick finalmente é lançada. Já dirigimos e gostamos, mas o preço (muito salgado) vai no máximo abrir um nicho
A inédita picape Ford Maverick finalmente está à venda no Brasil. Um dos lançamentos mais aguardados desta década, a Ford Maverick chega posicionada entre a Fiat Toro e a Ford Ranger. Este posicionamento se aplica não apenas pelo preço, mas também pelas características da Maverick, que vem importada do México.
Dirigimos a Ford Maverick na rua e na estrada, entre as cidades de São Paulo e São Roque. Seu comportamento dinâmico, seu porte, suas soluções de engenharia e preço destroem as previsões de que a Maverick seria uma anti-Toro ou uma mini-Ranger, numa comparação feita com as picapes de sucesso já estabelecidas pela Fiat e pela própria Ford. Nada disso. A Ford Maverick tem "personalidade" própria.
Talvez seja exagero dizer que a Ford inaugura uma nova categoria de picapes, situação que no passado favoreceu a Fiat Toro e a Ford Ranger. Mas, sem dúvida, a Maverick é superior à Toro em muitos aspectos, de forma que uma comparação direta entre as duas picapes não faz muito sentido. Da mesma forma, por ter uma carroceria monobloco, como a Toro, a Maverick não pode ser considerada uma mini-Ranger, que tem carroceria sobre chassi. São propostas totalmente diferentes.
Preços da versão Lariat FX4
A Ford não foi muito generosa no preço da Maverick Lariat 2.0, mas promete um custo de manutenção menor do que o da Fiat Toro. Veja abaixo os valores da Maverick.
Preço Brasil: R$ 239.990
Preço SP e PB: R$ 245.990
Revisões em 50.000 km: R$ 5.820
Garantia 3 anos: sem custo extra
Ford Protect 3 anos: R$ 3.203
Ford Protect 5 anos: R$ 5.548
Blindagem: R$ 78.500
Apenas como referência, a Ford Maverick Lariat FX4 de R$ 239.990 custa R$ 34.600 a mais do que a Fiat Toro Ranch TD350 (R$ 205.390). Para justificar seu preço, a Ford Maverick tem motor 2.0 turbo Ecoboost de 253 cv de potência (5.500 rpm) e 380 Nm de torque (3.000 rpm). Com seu motor 2.0 GTDI (turbinado com injeção direta de gasolina), a Maverick tem uma aceleração matadora em seu segmento: vai de 0 a 100 km/h em apenas 7,2 segundos.
Dirigibilidade de um SUV
A Maverick é uma picape mais agradável de dirigir do que a Toro e a Ranger. Ela bate a Toro por ser mais potente e mais larga, portanto é muito mais estável nas curvas e tem uma desenvoltura ímpar na estrada – o que chega a ser surpreendente para um veículo de quase 2,4 toneladas. No trânsito da cidade a Toro é muito mais ágil.
O câmbio automático de 8 marchas permite que a Maverick seja dirigida tanto de forma esportiva quanto de forma econômica. Bem, aqui está um ponto fraco: devido ao peso alto è a potência elevada, a Maverick não tem nada de econômica: ela faz 8,8 km/l na cidade e 11,1 km/l na estrada, mesmo contando com sistema start-stop e grade aerodinâmica ativa.
É importante dizer que o marcador de combustível da Maverick mostra o consumo a cada 100 km. Portanto, o motorista sabe que o consumo está baixo quando marca 9 litros/100 km no cluster. Para o futuro, se o mercado sinalizar que existe demanda para tanto, a Ford pode trazer para o Brasil a Maverick com sistema híbrido plug-in (a versão mais vendida nos Estados Unidos).
Por enquanto, a Ford aposta numa Maverick menos ecológica e mais emotiva. É um prazer dirigir essa caminhonete, que tem o porte parecido com o da primeira geração da Ranger. A linha de cintura é mais baixa, inclusive na caçamba. A suspensão traseira multilink entrega um rodar bem confortável, mas não deixa a picape ter comportamentos ruins na estrada. Ajudam muito os amortecedores hidráulicos com HRS (Hydraulic Rebound Stop). Segundo a Ford, a suspensão tem a mesma eficiência com carga ou sem carga na caçamba. Não duvidamos, pois a Fiat também conseguiu isso com a Toro, mas ainda não pudemos dirigir a Maverick com carga.
A proposta da Maverick é ser um veículo multiuso, que entrega a versatilidade de uma picape e a dirigibilidade de um SUV. Isso a Ford realmente conseguiu. Porém, um SUV tem porta-malas e a Maverick vem com a caçamba “pelada”, sem ao menos uma capota marítima (o que é inexplicável pelo preço que custa). Apesar do preço salgado da Maverick, a capota marítima é opcional. E quem quiser uma vedação total deve comprar a capota elétrica. Aí, sim, muitos SUVs vão comer poeira da Maverick.
Off-road, mas nem tanto assim
A versão Lariat chega com o pacote off-road FX4. Além da tração 4x4 (AWD), os pneus 225/65 são para todo-terreno (Pirelli Scorpion All Terrain). As rodas de liga leve são de 17” e pintadas de preto. Mesmo calçada com pneus de uso misto, o rodar da pista é bom no asfalto. Porém, ela peca por algumas características. O vão livre do solo não é muito grande (218 mm) e os ângulos de entrada e de saída não são os melhores: 21,6° na frente e 21,2° atrás. O ângulo central é de 18,1°.
O câmbio automático de 8 marchas tem reduzida, mas não se trata de uma engrenagem extra e sim de um sistema que trava a marcha e aumenta a rotação do motor. Ele trabalha como um freio motor.
Espaço é o que não falta. Com 5,073 m de comprimento e 3,076 m de distância entre-eixos, há conforto para quem viaja na frente ou atrás. Os passageiros da frente e dos bancos traseiros têm mais de 1 m de espaço do quadril até o teto. O carro mede 1,844 m de largura e 1,735 m de altura.
A caçamba abriga 943 litros e a capacidade de carga é de 617 kg. Ela possui ganchos, abridor de garrafa e instalação elétrica. A tampa da caçamba pode ser fixada em três posições e suporta cargas de 250 kg. A picape consegue rebocar 499 kg e já vem com o encaixe e a parte elétrica do reboque preparados – tanto que a placa traseira foi deslocada para a direita. Outro detalhe interessante da Ford Maverick é que ela tem modo Reboque/Transporte.
Ao engatar o reboque, basta selecionar esse modo no botão giratório do console para que a picape tenha um comportamento mais adequado para um veículo que se transformou em dois. No modo Reboque/Transporte, as trocas de marcha são otimizadas, com aumento da rotação, para evitar trancos. Há ainda outros modos de condução, como Lama/Terra, Areia, Escorregadio e Normal.
Uma coisa que realmente gostamos ao dirigir a Maverick foi o conceito do painel. Ele é bastante horizontal, tem cores e materiais em diferentes tons de cinza, mas todos os itens de interação homem/máquina são pintados de cobre. A multimídia Sync com tela de 8” é muito fácil de usar e tem tamanho suficiente, o que prova o exagero de certas marcas que parecem dar mais importância à conectividade do que à parte mecânica do carro.
Boas sensações ao volante
A posição de dirigir é excelente, com os ajustes elétricos em oito posições para o banco do motorista e ajustes de altura e profundidade para o volante de direção, que tem ótima empunhadura. O banco do passageiro tem ajuste manual em seis posições. A Maverick é leve e serena ao rodar, tem uma aceleração poderosa, porém suave. Não houve tempo para entrarmos em terrenos muito ruins, mas pegamos chuva e a picape passou segurança, conforto e estabilidade ao rodar.
O quadro de instrumentos traz os mostradores de velocidade e contagiros por ponteiros (gostamos disso) e o computador de bordo central numa tela digital de 6,5”. Por meio do Ford Pass Connect é possível dar partida remota com climatização, partida remota agendada e conferir a pressão dos pneus antes de pegar a estrada.
A Ford Maverick é uma picape completa. Mas não passa a sensação de ser um carro exagerado, cheio de comandos difíceis de memorizar. Pelo contrário, a Maverick é prática, ela foi pensada para facilitar a vida dos usuários.
Muitas partes do design interior são funcionais – com as maçanetas das portas, que são interrompidas para encaixar as rodas de uma bicicleta quando transportada na parte traseira da cabine dupla. Aliás, existe uma área enorme de 73 litros para guardar objetos embaixo dos bancos, pois o tanque de gasolina foi recuado. Além de ótimos espaços para bebidas (de até 1 litro), a Maverick tem duas entradas USB (tipos A e C).
A segurança é outro ponto forte da picape Maverick, com sete airbags, assistência pré-colisão com detecção de pedestres e ciclistas, frenagem de emergência, frenagem pós colisão e controle de descida. Os freios são a disco nas quatro rodas.
Picape como veículo pessoal
Neste primeiro contato, sentimos que a Ford Maverick é uma picape para ser descoberta aos poucos – tantas são as possibilidades que ela oferece. Entre os 18 acessórios que chegam com o inédito veículo da Ford há o extensor de caçamba e a divisão em módulos para evitar que objetos menores se movimentem dentro da caçamba. “As pessoas estão cada vez mais olhando para a picape como um veículo de uso pessoal e não de trabalho”, comentou Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul.
Sem dúvidas, a Maverick é um veículo que mostra boa parte da visão da nova Ford para o presente e o futuro. Com a linha de cintura rebaixada e um porte largo, a Ford Maverick é muito bonita e funcional. A grade dianteira tem um interessante desenho que mostra dois frisos cromados invadindo a área dos faróis (em C). A tampa traseira não tem friso, mas traz um jogo de volume e sombras que “alargam” visualmente a picape.
Quanto ao preço, barata ela não é. Pelo contrário, é cara. Porém, a Ford mostra muita cautela neste lançamento. Com a atual “febre” por picapes que existe no Brasil, a Maverick poderia perfeitamente contar com uma ou duas versões com menor conteúdo – e mais baratas – para balançar a hegemonia da Fiat Toro em algumas faixas de preço. É verdade que a Maverick é maior e mais espaçosa do que a Toro – por isso mesmo, uma versão estrategicamente colocada próxima da Toro seria matadora.
Ficha técnica
Preço: R$ 239.990
Motor: 2.0 GTDI 4 cilindros
Potência: 253 cv a 5.500 rpm
Torque: 380 Nm a 1.750 rpm
Câmbio: 8 marchas AT
Tração: 4x4 (AWD)
Comprimento: 5,073 m
Largura: 2,134 m
Altura: 1,733 m
Entre-eixos: 3,076 m
Vão livre: 218 mm
Peso: 2.361 kg
Pneus: 225/65 R17
Caçamba: 617 litros
Carga útil: 943 kg
Tanque: 67 litros
0-100 km/h: 7s2
Velocidade máxima: 175 km/h
Consumo cidade: 8,8 km/l
Consumo estrada: 11,1 km/l
Emissão de CO2: n/d