Meu dia-a-dia com um Volvo C40 totalmente elétrico
Usamos o Volvo C40 durante seis dias e nem tínhamos carregador em casa. Veja como é a experiência de utilizar um carro 100% elétrico
1º dia
Peguei o Volvo C40 na TSO Brasil (empresa que administra a frota da marca) com 96% de carga na bateria. Segundo Wilson Payossin, havia muita demanda de carregamento e o C40 teve que ceder a vez. A Volvo é a marca que mais têm pontos de recarga no Brasil, mas ainda há escassez de pontos de carregamento rápido no país.
O display central do Volvo C40 trazia três números de “autonomia estimada”: 240 km, 270 km (em destaque) e 440 km. Isso significa que o carro pode ter um alcance de 440 km, mas depende de condições ideais de condução – tanto que ao lado traz três mostradores: velocidade, estilo de condução e controle de clima.
Mas, nas condições de memória do carro, ele não faria mais do que 240 km. Logo abaixo desse número havia a opção “range optimizer” (otimizador de alcance), que reduz a potência do ar-condicionado, por exemplo. Achei uma boa ideia usar.
Fui da TSO direto para minha casa. O percurso teve 16 km e guardei o carro na garagem com 92% de bateria. Durante o trajeto, o consumo médio foi um pouco superior a 20 kWh/100 km rodados. A bateria do Volvo C40 tem 78 kWh de capacidade. Não saí mais com o carro no primeiro dia, mas fiz uma conta rápida.
Se ele gastou 4% de bateria para rodar 16 km, significa que até zerar a bateria eu poderia ter, hipoteticamente, mais 23 ciclos de 4% de consumo elétrico. Multiplicando por 16 km rodados, eu poderia ter um alcance de 368 km. Será? Vejamos no segundo dia. Ah, não tenho carregador em casa (teria se comprasse um carro elétrico) e isso dificulta um pouco as coisas.
2º dia
Decidi rodar bastante com o Volvo C40 e propus a mim mesmo um desafio: fazer uma parte na cidade e depois pegar um roteiro de pelo menos 100 km na estrada, o que daria no mínimo 200 km. O Volvo C40 não tem Android Auto e Apple CarPlay, por isso não funciona com Waze. Funciona com o Google Maps, mas de formas diferentes: o SUV elétrico é equipado com o sistema multimídia Google Automotive Service.
Significa que o carro está o tempo todo conectado comigo via Google. Não vou entrar aqui no mérito da invasão de privacidade que esses sistemas de dados exercem, pois isso é tema para um estudo mais aprofundado. Falemos da conectividade.
“Ok, Google” – eu disse, e ele despertou com um sinal sonoro. “Dirigir até São Roque” (cidade do interior paulista). O carro obedeceu e na tela multimídia mostrou não apenas o tempo e a distância que eu iria percorrer, mas também a carga da bateria ao final da viagem. Indicava 62%. Isso me deu segurança para ir além. Depois de rodar alguns quilômetros na cidade, fui até São Roque.
De São Roque, pedi ao Google Maps para me levar até Itu (100 km de São Paulo). Tive o cuidado de dar uma carga de 40 minutos no Eco Parada Madero, que fica na Rodovia Castello Branco, enquanto eu almoçava. O carregador tem 22 kW de capacidade e me entregou o Volvo com 81% de bateria (cheguei com 71%). No início do dia, o assistente de autonomia indicava que eu poderia rodar 270 km se mantivesse a mesma tocada do dia anterior. Dava também um alcance mínimo de 240 km e um máximo de 440 km.
O carro é espetacular em termos de performance. Basta pisar no pedal para ele responder com 440 cv de potência e incríveis 660 Nm de torque. Mesmo em movimento, uma pisada forte no pedal do acelerador faz o carro dar um salto para frente e jogar o tronco e a cabeça dos ocupantes para trás. Felizmente há apoio de cabeça. Mas não dá para correr muito, pois o consumo aumenta demais (como nos carros com motor a combustão). Por isso, preferi ficar sempre numa velocidade entre 100 e 110 km/h na estrada.
Pois bem, ao final do dia rodei 260 km e o Volvo C40 ainda estava com 30% de sua carga, suficiente para rodar de 80 a 140 km (com estimativa de 100 km). Pela primeira vez, me senti seguro ao rodar com um carro 100% elétrico. Aguardemos o terceiro dia.
3º dia
Acordei com um carro que tinha apenas 100 km de autonomia na garagem e para aumentar seu alcance precisaria de algumas horas conectado a um carregador de bateria. Mas, calma. Isso só aconteceu comigo porque meu condomínio não tem um carregador elétrico. Com certeza esse não será o caso de um proprietário de carro elétrico, que certamente vai instalar um carregador em sua residência.
Bastaria deixar o carro conectado na tomada na noite anterior e eu teria um automóvel com alcance real próximo de 300 km. Insuficiente para uma longa viagem, mas de bom tamanho para roteiros de até uns 250 km com segurança.
Sem carregador em casa, parti para encontrar um. A Volvo me sugeriu o aplicativo EDP EV, mas achei ele chatinho de usar e recorri ao popular PlugShare. Rapidamente encontrei três opções perto de casa: um de 22 kW num shopping center, outro de 3,7 kW da própria Volvo em outro shopping e um numa concessionária (que não tinha indicativo da capacidade). Como era domingo, optei pelo de 22 kW no shopping.
Bem, o de 22 kW estava ocupado e ficava no Valet de um shopping. Iria me custar uns R$ 20 pelo estacionamento. Fui no outro, de 3,7 kW. Em uma hora de carga, a bateria subiu de 28% para 37%. Não foi muita coisa, pois esses carregadores de baixa voltagem são mais adequados a carros híbridos de bateria pequena. Paguei R$ 15 pelo estacionamento e só fui no shopping por causa do carro. Ele passaria mais uma noite sem o carregamento que um proprietário resolveria de forma simples. E iria para o quarto dia com 37% de bateria e alcance médio de 130 km. Ao estacionar o carro, um estranho apito soou e só parou quando desci do veículo e tranquei as portas.
4º dia
Ao ligar o carro, o apito voltou a soar. Telefonei para a Volvo e me disseram que o carro recebe atualizações On-The-Air e que bastava atualizar o sistema. Pensei que isso ia tomar horas, mas ele fez a atualização em cerca de 1 minuto. Bastou fazer uma rápida operação na multimídia do carro.
Esse é um item que alguns usuários podem estranhar, mas é possível deixar essas atualizações programadas com a concessionária. Bem, o Volvo C40 também tem um aspecto exótico no design. Ele é um SUV cupê, segundo a Volvo, porém parece mais um cupê elevado do que um utilitário esportivo. Em termos de comportamento dinâmico, isso é ótimo.
A multimídia do C40 é um pouco diferente da tradicional central que equipa os modelos XC 40, XC 60 e XC90. Achei a do C40 melhor e muito mais intuitiva. Porém, é um pouco difícil se acostumar com a ideia de que não existe botão de partida nem local para espetar a chave de ignição. Basta engatar Drive para o carro ligar e engatar Parking para ele desligar.
Uma vez corrigido o probleminha da atualização, saí à procura de um carregador mais potente para melhorar o alcance do carro. Lembro mais uma vez que eu não tenho carregador Wallbox na residência – se tivesse, o carro amanheceria com 100% de carga. Portanto, esse relato vale como curiosidade, mas não deve acontecer com os proprietários de Volvo C40, que recebem um cabo de 3,5 kW na compra do carro.
Com apenas 37% de bateria, tratei de procurar no aplicativo um carregador rápido. O mais rápido que encontrei perto da minha casa foi no mesmo shopping da véspera. Dessa vez fui cedo para lá, mas… o único carregador estava com defeito. Decidi então procurar uma concessionária da Volvo. Falei com a Autostar, de São Paulo, e me disseram que podia levar o carro.
Chegando lá, havia apenas um carregador rápido, que era acionado com aplicativo, mas tinha que pagar. Então recusei. Deixei o carro durante três horas carregando. Quando fui pegá-lo, no meio da tarde, tinha apenas 48% da bateria. Fiquei bem frustrado, pois esperava mais. Então levei novamente o carro para o outro shopping e conectei num carregador da própria Volvo. Não havia informação sobre voltagem. O carro ficou mais cinco horas lá.
Quando peguei o carro, estava com 65% de carga na bateria. Segundo o display central, essa carga é suficiente para rodar de 160 km a 300 km, com estimativa de 220 km. Ok, dá para usar o carro na cidade por mais alguns dias, mas não vou me arriscar a viajar com ele assim. Ainda tive que pagar R$ 50 do estacionamento. Teria sido mais barato usar o carregador rápido da Volvo Autostar. Amanhã tem mais.
5º dia
Com toda a mão de obra que dá para achar um carregador rápido numa cidade como São Paulo, está claro que o problema dos carros elétricos não está nos carros, e sim na péssima estrutura do país para atender essa nova demanda de energia. Já tirei algumas conclusões. Uma delas é que é fundamental ter em casa o Wallbox mais potente possível.
Ora, de que adianta eu ter um carro com bateria de 78 kW se o carregador tem apenas 3,5 kW? Isso significa que vou precisar de umas 22 horas para carregar 100% da bateria. O que garante a velocidade de carregamento é também o cabo que vem com o carro. Felizmente, o do Volvo C40 tem capacidade 11 kW. Assim, é possível dar uma carga total num período de tempo que vai de 7 a 8 horas. É suficiente.
Para carregar 80%, entretanto, o tempo é muito menor. Isso porque, por segurança da bateria, todos os fabricantes fazem os últimos 20% em carga lenta. Vale a pena comprar o Wallbox? Eu diria que é fundamental. O Wallbox de 11 kW do Volvo C40 custa cerca de R$ 9,5 mil. E ele tem seu próprio cabo, que é superior ao que vem com o carro. Quanto ao custo de instalação, depende da infra-estrutura do local escolhido pelo cliente.
Neste quinto dia não rodei muito com o carro – ou seja, numa situação de rotina, estaria com folga para completar qualquer carga. Fiz apenas dois pequenos trechos perto de casa, de forma que não tive muito consumo da bateria.
6º dia
Devolvi o Volvo C40 na TSO Brasil com mais de 50% de bateria. Peguei um congestionamento no trajeto e mais uma vez o carro motrou que é mesmo conectado. Esqueci meu smarthone em casa, mas mesmo assim puder usar o navegador Google Maps. Ele me deu a informação de que havia um congestionamento de 7 minutos no trajeto, mas que era o melhor caminho a fazer.
Exagerei e pedi para ele fazer um telefonema. O carro me respondeu dizendo que só conseguiria cumprir essa tarefa se tivesse um telefone conectado ao Bluetooth. Óbvio, mas não custava tentar. Aproveitei para simular uma viagem de até o litoral norte paulista (Guarujá) antes de chegar à TSO. O carro previu o tempo de viagem e que eu chegaria no destino com 37% de bateria, mas ainda teria 3% ao chegar na TSO, que era o destino original.
Devolvi o Volvo e, por um lamentável descuido, baixei o vidro do carro e conversei com o manobrista do local. Na distração, esqueci que a roda estava virada e, ao soltar um pouco o freio, a guia ralou a bonita roda de 19" dianteira esquerda. Que raiva! Depois de tanto cuidado com o carro, acontece essa barbeiragem na entrega. Fazer o que?
Finalizo essa experiência de seis dias com o Volvo C40 dizendo que eu nunca me senti tão seguro e confortável ao rodar num carro totalmente elétrico. A conexão do carro com o Google Automotive Services é realmente muito prática. Óbvio que tem a questão da privacidade entregue para duas empresas: a própria Volvo e (pior) o Google.
Um pouco antes da entrega, surgiu uma mensagem no display central de que o carro precisaria ser atualizado, como um aplicativo de celular. Mas, nesse caso, a atualização completa levaria 1h30min e o carro não poderia ser usado durante esse período. No mesmo dia, a Volvo Cars comunicou que sua atualização remota qhega simultaneamente a 190.000 veículos de 34 países. No Brasil, as atualizações de software irãoatingir toda a nova frota de carros híbridos e elétricos da marca.
Se eu compraria um Volvo C40? Sim. Mas antes de tudo ia querer ter certeza de que na minha residência teria o mais potente carregador de bateria possível. Tendo isso em casa, o resto é só diversão -- desde que seja com uso num raio de uns 150 km (em caso de viagem).