Novo Voyage? Por que a Volks faz mistério sobre o futuro
Apesar de ter vendido 90 mil unidades do Voyage nos últimos três anos, Volkswagen não confirma (nem nega) nova geração do pequeno sedã
O Volkswagen Voyage é um carro marcado para morrer. Não já, como chegou a ser noticiado, mas é praticamente certo que o carro não vai chegar “vivo” a 2023. Apesar de ter vendido 90 mil unidades do Voyage nos últimos três anos, a Volkswagen deve ter identificado que não existe mais um grande mercado para os sedãs pequenos no Brasil.
Antes da pandemia de Covid-19, o VW Voyage vinha emplacando, em média, cerca de 30 mil unidades/ano. Em 2020, as vendas caíram para 24 mil, mas em 2021 a Volkswagen achou um nicho para o pequeno sedã (vendas diretas) e o Voyage terminou o ano com 34 mil emplacamentos. Porém, isso não se sustenta a médio e longo prazo.
O Volkswagen Voyage é um sedã de entrada e existem apenas mais três como ele no Brasil: Fiat Cronos, Hyundai HB20S e Renault Logan. Antigos rivais morreram ou se aposentaram, casos do Ford Ka Sedan, Fiat Grand Siena e Chevrolet Corsa Classic. Outros subiram de categoria, como o Chevrolet Prisma (agora Onix Plus) e Nissan Versa (ganhou nova geração).
Antigos compradores desses carros são famílias de classe média com um ou dois filhos pequenos e que precisam de um bom porta-malas para transportar muitos objetos, principalmente para bebês ou crianças. Esses consumidores, entretanto, tiveram uma forte redução na renda e passaram a comprar sedãs usados, pois o preço do carro zero km se tornou impraticável. Veja abaixo os números do segmento.
SEDÃ | 2021 | MÉDIA 2021 | MÉDIA 2022 |
VW Voyage | 28.593 | 2.382 | 197 |
Fiat Cronos | 27.887 | 2.323 | 900 |
Hyundai HB20S | 25.568 | 2.130 | 1.690 |
Fiat G. Siena | 15.355 | - | - |
Renault Logan | 9.478 | 790 | 695 |
Para além da queda de poder aquisitivo dos consumidores do Voyage e de outros carros da categoria, os custos de produção aumentaram. Como são veículos que precisam ser acessíveis (ou não vendem), as montadoras não conseguem obter lucros significativos com esses carros. Tirando o Voyage do mercado, entretanto, a Volkswagen deixaria o segmento totalmente à disposição da Fiat e da Hyundai. A Renault também tem planos de trocar o Logan por um sedã de categoria superior.
Portanto, a pergunta que foi feita em São Bernardo do Campo (sede da Volkswagen do Brasil) foi a seguinte: faz sentido ter o Virtus como sedã de entrada de uma marca popular como a VW? O Virtus mais “barato” custa R$ 112.120. É caro para os padrões dos antigos compradores de Voyage, mas é um sedã moderno, produzido na plataforma MQB (modular) e facilmente adaptável às novas necessidades dos consumidores.
A resposta deve ter sido “não”. Em 2021, os sedãs pequenos emplacaram 115,5 mil unidades, mais do que os 105,4 mil dos sedãs compactos. Outro detalhe: 25% desses emplacamentos foram do VW Voyage, muito útil para motoristas de aplicativos e pequenos comerciantes que precisam transportar suas mercadorias.
Novo Voyage ou Virtus Track?
O Voyage sempre teve sua vida ligada com o Gol, outro carro clássico da Volkswagen que está com os dias contados. O Gol atual, entretanto, já tem um substituto: será o Polo Track, já confirmado. O nome Gol deve ser aposentado com honras e glórias, embora muitos apostem que o nome será usado num SUV inédito. Na verdade, ninguém sabe, fora os manda-chuvas da Volks. Se vai existir um Polo Track, qual é o problema de existir um Virtus Track? Nenhum. Essa é a aposta mais segura a se fazer.
Neste novo ciclo de investimentos da VW para o Brasil, R$ 7 bilhões, estão previstos quatro carros. O primeiro será o Polo Track. O segundo, tudo indica, deve ser o Virtus Track. Em termos de marketing, faz mais sentido usar o nome Virtus Track, que remete a um carro superior e moderno, do que ao Voyage, que remete aos anos 80 do século passado (assim como o Gol).
O terceiro será um inédito SUV compacto, menor do que o T-Cross. Este novo SUV, segundo grande parte da imprensa, será batizado de Gol, mas lembramos dos problemas em manter o nome antigo num carro de outra categoria. O quarto modelo é uma incógnita. Pode ser mais um SUV, talvez uma variante cupê do inédito SUV de entrada, algo como um mini Nivus, ou a nova geração da picape Saveiro.
Diante de todo esse panorama, o Volkswagen Voyage deve mesmo dar adeus ao mercado em breve, embora a montadora garanta sua produção para este ano. Os consumidores desse segmento não ficarão órfãos se a VW conseguir dar ao seu substituto (provavelmente Virtus Track) um preço competitivo com os rivais Fiat Cronos e Hyundai HB20S.
Por que a Volks faz mistério sobre o futuro do Voyage? Justamente por tudo isso. Se existem as variantes colocadas nesse texto, faz parte do jogo industrial manter o mistério, pois isso impede que as marcas concorrentes estejam 100% prontas para quando a Volkswagen colocar seu carro na rua – seja ele um novo Voyage, um inédito Virtus Track ou algo surpreendente como um pequeno SUV.