Cidade "fantasma", Detroit renova esperança com montadoras
- Peter Fussy
- Direto de Detroit
Na última semana cerca de 5 mil jornalistas de 55 países chegaram a Detroit para a cobertura o salão do automóvel, segundo a organização. A recepção foi amistosa, e o pavilhão do evento abrigou todos com conforto. Mas bastava sair para a rua em busca de um táxi - porque no berço da indústria automobilística o transporte público é escasso - para ver que a cidade ainda sofre com a decadência econômica: pedintes, prédios abandonados, escritórios para alugar, terrenos vazios mesmo no centro e pouca movimentação nas lojas de rua.
"Estou desempregado há cinco anos. Preciso de 50 centavos para tomar um café", disse um pedinte na porta do Cobo Center. Por isso, além de apresentar suas novidades, Ford, General Motors e Chrysler (chamadas de "as três grandes de Detroit") tiveram a preocupação de renovar as esperanças dos moradores da cidade, com promessas de abertura de empregos e aumento da produção durante o salão. Mas o caminho para reviver a cidade com ares de "fantasma" é longo.
A região metropolitana de Detroit já foi o maior pólo de produção de Ford, GM e Chrysler. O auge foi na década de 1950, quando a população da cidade ficou próxima de 2 milhões. Desde então, a cidade encolheu conforme as montadoras foram perdendo espaço no mercado e transferindo fábricas para outros cantos do mundo. O número de habitantes caiu pela metade, para 713 mil em 2010, segundo o último censo divulgado. O êxodo deixou marcas no centro da cidade: arranha-céus seguem imponentes ao lado de terrenos vazios e prédios abandonados.
No sentido contrário, o desemprego na cidade cresceu e chegou a 16% em 2009, ante 4,5% em 2001. Mas o número pode chegar a 30%, segundo afirmou em entrevista o prefeito de Detroit Dave Bing, já que muitos pararam de procurar emprego (e por isso não contam mais nas estatísticas). O declínio da produção automobilística na região derrubou o trabalho industrial na cidade, de 351 mil empregados em 1991 para 198 mil em 2011 - uma queda de 43% conforme dados do governo americano.
De acordo com estudo da Universidade de Cornell, as "três grandes de Detroit" tiveram sua fatia de mercado reduzida de 64,5% em 2001 para 47,5% em 2008, perdendo participação para compactos, principalmente asiáticos. A situação se agravou no final de 2008, quando a crise de crédito abalou a economia global. GM e Chrysler foram obrigadas a pedir ajuda financeira ao governo americano para não entrar em concordata. Em seguida, a Chrysler passou para as mãos da italiana Fiat.
Durante os dias exclusivos à imprensa no salão, a Ford mostrou seu novo Fusion e deu boas notícias aos moradores com o anúncio de 12 mil novas vagas de trabalho. A Chrysler, que anunciou a produção do Dodge Dart, também firmou compromisso de abrir 1,1 mil novas vagas. O número não é muito em relação ao tamanho das perdas, mas foi com empolgação que o presidente do salão de Detroit recebeu os jornalistas e as novidades. "O 'burburinho' está de volta. Cobo Center e a cidade de Detroit estão brilhando novamente", disse Bill Perkins.
Oásis
Ao lado do pavilhão de exposições, fica o Renaissance Center, que já marcou a tentativa de ¿renascer¿ da cidade quando foi construído em 1977, e atualmente é a sede global da General Motors. O prédio de 73 andares é cercado por outras seis torres menores e parece ser um "oásis" no meio da decadência de Detroit. Desde 1996 quando comprou o prédio, a GM promove um projeto de revitalização, do interior e exterior, que já custou cerca de US$ 500 milhões.
O centro empresarial emprega aproximadamente 9 mil pessoas, sendo 5 mil funcionários da GM e o restante de companhias que alugam escritórios no edifício - todos andando apressadamente no anel de circulação que une as torres, como em filmes de Hollywood. O prédio já foi usado como locação para filmagens diversas vezes, mais recentemente de Gigantes de aço, com o ator Hugh Jackman. Mesmo assim, alguns espaços para lojas seguem fechados, mostrando que o conjunto ainda não tem forças para mover a recuperação sozinho.