Test Drive: BMW iX entrega prazer e conforto de executiva

Como anda o novíssimo BMW iX xDrive50, um enorme SUV 100% elétrico que pretende modificar seus conceitos sobre automóvel

Sergio Quintanilha

1 jun 2022 - 10h38

(atualizado às 12h00)

Exibir comentários

BMW iX no test drive de um dia.
Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

O majestoso BMW iX parou na frente do meu condomínio logo de manhã e chamou muita atenção. Afinal de contas, o carro é enorme (tem quase 5 m de comprimento) e um design totalmente incomum. Na cor vermelho vinho e com a força do preto na enorme grade, nas rodas e nas extremidades, o BMW iX provoca um choque à primeira vista. “Gosto ou não gosto?” – eis a primeira pergunta que você faz a si mesmo.

O carro emprestado pela BMW para test drive de um dia foi o iX xDrive50, o mais potente, com dois motores elétricos impressionantes: um de 258 cv na frente e outro de 313 cv atrás. Ou melhor: falando na linguagem mais apropriada aos carros elétricos, um motor de 192 kW e outro de 233 kW. A potência combinada é de 387 kW ou 526 cavalos. O torque é de estonteantes 765 Nm.

Tudo no carro é digital, elétrico, sustentável ou diferente. As maçanetas das portas estão embutidas e se abrem com um leve toque dos dedos por dentro. Se a porta não fecha totalmente, basta um leve empurrãozinho e o sistema “suga” a porta, fechando-a completamente. A estrutura do BMW iX tem muito alumínio, magnésio, fibra de carbono e liga de aço. Isso permitiu fazer as portas sem estrutura na parte superior dos vidros.

Viajei com mais três pessoas para ouvir também suas impressões nos bancos dos passageiros, pois seria apenas um dia dia com o carro. O BMW iX impressiona por usar e abusar de Shy Tech, que consiste em deixar a tecnologia não visível para os usuários (como os alto falantes dentro dos bancos e a grade dianteira repleta de sensores e com uma resina que regenera pequenos danos).

É difícil não se admirar com os comandos de cristal nos bancos e no câmbio. Ou com o teto solar, que é inspirado nas janelas do Boeing 787 Dreamliner e se torna mais claro ou mais escuro com um simples deslizar do dedo. Bem, na hora de partir, vi que a bateria tinha apenas 70% de sua carga e o computador de bordo indicava uma autonomia de 380 km. Fiquei um pouco preocupado, pois o trajeto programado, até a Riviera de São Lourenço (litoral paulista), tinha quase 300 km no total, mas a BMW garantiu que daria para ir e voltar.

Logo que foi possível, apenas para sentir a potência do carro, pisei com tudo no acelerador (kick down), o carro deu um salto para frente, ganhou muita velocidade imediatamente e precisei pisar no freio logo depois para reduzir e não passar da velocidade permitida. O BMW iX acelera de 0 a 100 km/h em apenas 4,6 segundos.

Além dos 4,95 m de comprimento, o BMW iX tem quase 1,97 m de largura, ou seja, ocupa muito espaço nas ruas. E mesmo pesando 2.510 kg, o carro é muito ágil no trânsito – afinal, sua relação peso/potência é de apenas 4,8 kg/cv. O interior também é enorme. O banco traseiro lembra um assento de classe executiva de avião.

Por causa do alcance limitado da bateria, achei melhor não acelerar muito forte na viagem de ida ao litoral. O volante de direção é um hexágono com a parte superior vazada, permitindo ótima leitura do painel de instrumentos, que é bem diferente. Talvez de olho no mercado chinês, o BMW iX tem um design moderno para uma solução visual muito comum nos carros chineses, que é o mostrador do lado direito subindo em sentido inverso ao que estamos acostumados a ver em quase todos os carros.

Um detalhe interessante e que aumenta a confiança é que o computador de bordo sempre mostra o alcance provável, mas também traz a autonomia máxima e a mínima. Ou seja: você pode manejar o alcance elétrico com o pé direito – se pisar muito fundo, como toda a potência disponível, não irá muito longe, mesmo com uma bateria de 111,5 kWh de capacidade. O computador de bordo indica até mesmo quanto haverá de energia na bateria ao final do destino colocado no navegador (Google Maps).

Na descida da Serra do Mar, pela Rodovia dos Imigrantes, o BMW iX conseguiu regenerar uns 15% de energia. Teria sido muito mais se eu descesse pela Rodovia Anchieta, que é mais sinuosa e exige mais freios. Quando chegamos à Baixada Santista eu já estava totalmente confiante na capacidade do BMW iX em relação ao alcance, mesmo tendo partido com 70% da carga e sem nenhuma previsão de carregamento.

A estrada que leva ao Guarujá é rápida, mas tem muitos caminhões, o que prejudica a performance de carros rápidos como o BMW iX. Mas, ao chegar na BR-101 (Rio-Santos), o primeiro carro 100% elétrico da BMW mostrou toda sua capacidade para acelerar, frear, fazer curvas e retomar velocidade com esportividade e conforto. Parece um carro de outro mundo, visualmente e com suas soluções futuristas, mas ao rodar é deste mundo mesmo, com o melhor que a indústria automobilística pode proporcionar em termos de comportamento dinâmico para um veículo elétrico de 2,5 toneladas.

O carro impressiona e os motoristas mais atentos não dificultam a ultrapassagem. Em estrada de pista simples, muito movimentada, ter 526 cavalos de potência e 765 Nm de torque é um fator de segurança. Para economizar bateria, o iX tem a velocidade máxima limitada em 200 km/h. Gostei das suspensões porque compensam o perfil baixo dos pneus nas rodas de 22” e garantem um rodar razoavelmente macio.

A vida a bordo é excelente. A cada minuto íamos descobrindo itens interessantes no carro. O interior do carro traz uma incrível tela curvada (Live Cockpit Professional) onde estão dois displays: um de 12,3”, com design programável, para exibir as informações essenciais ao motorista, e um de 14,9” que tem compatibilidade com Apple CarPlay e Android Auto. O Live Cockpit oferece realidade aumentada para projetar na tela multimídia a melhor visualização possível ao motorista de locais que ele não conhece ou não vê totalmente. Quanto ao Head Up Display, achei que havia excesso de informação.

Na Riviera de São Lourenço, o BMW iX até poderia receber uma carga de bateria no shopping center local, mas não achamos necessário, pois o computador de bordo indicava 45% de energia na bateria. O carro tem três modos de condução: Personal, Sport e Efficiency. Com o alcance garantido, daria para abusar um pouco mais do modo Sport.

Na volta, o BMW iX cumpriu fielmente o prometido pelo computador de bordo. Tanto que nos mandou subir a serra pela Anchieta e depois o navegador optou por um percurso maior, passando pelo Rodoanel, para evitar o trânsito pesado da capital paulista no final da tarde. Entregamos o carro meia hora antes do previsto, sem nenhuma intercorrência nesta experiência de um dia, com 13% de energia na bateria.

Ninguém reclamou de cansaço, falta de conforto, claustrofobia, ruídos excessivos ou qualquer tipo de problema comum em viagens de 300 km, especialmente carregando duas pessoas idosas. Pelo porte e pelo preço (R$ 799.950), o BMW iX é um carro para ser desfrutado em família.

É um pouco difícil se acostumar com o sistema de abertura das portas, pois basta um toque na lateral para que ela se abra, mas não achei muito prático. Particularmente, acho que a velha e boa maçaneta não deveria ser abolida (existe uma escondida no painel da porta, abaixo do apóia-braço, para eventual emergência). Felizmente, a BMW não adotou o retrovisor por câmera, como fez a Audi no E-tron, pois é feito e não é prático.

Dá para ter prazer ao dirigir o BMW iX? Sim, dá. O carro acelera muito, tem ótima frenagem e seu comportamento dinâmico advém da tração nas quatro rodas com uma carroceria cheia de elementos de carbono. Tudo que há de melhor e mais sustentável foi usado no carro. Mais do que a esportividade, ele entrega uma atitude perante a vida, perante a mobilidade e perante o meio-ambiente. Por isso, o prazer não está só em dirigir, mas em usufruir do iX.

A BMW entendeu como poucas marcas que o mercado de luxo já ultrapassou a barreira da posse. Tudo que o dinheiro pode comprar ele compra, mas o dinheiro não compra o pertencimento. Por isso, o BMW iX tenta fazer com que seus usuários, seja motorista ou carona, sintam que pertencem a um novo mundo – mais tecnológico e seguro, sim, mas acima de tudo mais sustentável e inteligente.