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Nicolas Cage está de volta às telas em 60 Segundos É o cinemão de Hollywood no que tem de pior, mas se a reação do público do Hotel Maksoud, no domingo à tarde, valer como indicativa de tendências, é bom já começar a fazer fila na porta dos cinemas. A platéia adorou. Chegou a aplaudir 60 Segundos em cena aberta. Duas cenas agradaram particularmente ao público do Maksoud - em uma delas, Nicolas Cage, na direção de um carro envenenado, chega a uma ponte interditada. A polícia o persegue e ele tem de passar a qualquer custo. Impossível, pensa o espectador. Não para a imaginação dos roteiristas de Hollywood. Cage dá uma ré, engrena e a 300 por hora sobe por uma rampa improvisada para voar com sua máquina sobre uma dezena de carros. Isso é delírio, mas foi feito sem computador, comprovando que os stuntmen americanos são os melhores do mundo. Não vá agora dar uma de doido e tentar fazer o mesmo no já conturbado trânsito paulista. A outra cena é mais discutível ainda. Cage é um ladrão de carros que abandonou o crime, mas é forçado a voltar à ativa depois que o irmão, que seguiu seus passos, falhou numa operação e é jurado de morte por um chefão. Para salvá-lo, Cage tem de roubar 50 carros raros ou de luxo numa só noite. Ele reúne antigos companheiros, entre eles Angelina Jolie, que foi sua namorada. A cena é a seguinte. Cage e Angelina chegam de carro ao local em que está a máquina que devem roubar. A casa é toda de vidro e pode-se ver perfeitamente um casal nas preliminares. É o dono do carro. Cage e Angelina bancam os voyeurs, vendo o casal que faz amor. Conversam sobre o que é mais excitante, transar ou roubar. Cage diz que é transar roubando carros. E partem para a ação. É a velha receita hollywoodiana. Um pouco de sexo incrementa a violência, a violência (o roubo) torna o sexo mais excitante. Isso sim é o chavão mais canalha que o megacinema de Hollywood não se cansa de difundir. Mas não há como negar que o roteiro, como o do outro filme de Sena, se preocupa em estabelecer relações de causa e efeito, tentando dar substância humana aos personagens. Não consegue, é claro. Tudo é fake - clichezão. Mas lá estão a rivalidade entre os irmãos e a forma como será superada no desfecho, a figura do policial que persegue o ladrão e, no final ambos chegarão a uma relação de interdependência, o casal que retoma o fogo da paixão, etc.,etc. Cage ocupa o centro da ação e a verdade é que está menos insuportável do que nos outros filmes de grande espetáculo que vem protagonizando depois que ganhou o Oscar por Despedida em Las Vegas. Outro oscarizado, Robert Duvall (de A Força do Carinho), não tem dificuldade para dar certa humanidade ao seu personagem de amigo leal e é a melhor figura do elenco. Para Duvall, é um retorno ao universo dos carros e da alta velocidade pois ele também foi o segundo de Tom Cruise em Dias do Trovão, de Tony Scott. E há Angelina Jolie. O espectador consciente poderia muito bem recorrer ao Procon, tentando processar a produtora Buena Vista, por propaganda enganosa. Vende Angelina Jolie como estrela, mas a vencedora do Oscar (por Garota, Interrompida) é mera coadjuvante. Qual é a surpresa? 60 Segundos inscreve-se na linha dos filmes de machos, que exaltam, aqui por meio de carros, o universo masculino, onde a mulher costuma ser acessório ou ornamento. Cage gosta de dizer que, como herói de ação, é diferente, mais sério e responsável. Não é e 60 Segundos é outra prova disso. .(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)
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Título
Original: Gone in Sixty Seconds |
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