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"O Dia da Caça" traz triller sobre o narcotráfico do País
O Dia da Caça, de Alberto Graça, é um triller policial que traz às telas um dos assuntos mais polêmicos do panorama brasileiro: o narcotráfico. Através de personagens bem trabalhados e muita tensão psicológica, o diretor traz ao público uma trama policial marcante e explosiva, sem as clássicas e estereotipadas sequências violentas e aventurescas consagradas pelo cinema americano do gênero.
O filme tem história ambientada na Amazônia e em Brasília e traz, através de um elenco interessante - formado por atores brasileiros e franceses -, um enfoque particular e franco sobre a questão do tráfico de drogas no país.
O personagem central é Nando (Marcello Antony), que há quatro anos afastado do tráfico, é pressionado pelo policial corrupto Branco (Jonas Bloch), a buscar 30kg de cocaína na Colômbia. Em gratidão ao homem que o tirou do tráfico, Canosa (Nelson Pereira dos Santos), Nando aceita a missão.
Para acompanhá-lo ele chama o amigo Vander, um travesti doentio interpretado pelo revelador Paulo Vespúcio (Um Céu de Estrelas).
Na Amazônia, a operação fracassa. Fugindo da perseguição, encontram Monalise (Barbara Schulz), amante de um traficante francês que traz revelações surpreendentes levando-os a participar de um plano de vingança.
Num retorno clandestino à Brasília, os três passam a receber a ajuda do jornalista Raul (Felipe Camargo), que está disposto a denunciar o envolvimento de policiais, empresários e políticos com o narcotráfico.
Um projeto de anos
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A atriz francesa Barbara Schulz é Monalise |
O dia da Caça surgiu há muito tempo, diz Alberto Graça. Segundo o diretor, o filme foi escrito há dez anos, mas foi só em 1995 que ele começou a roteirizar a história e captar recursos. Em 1997 foram iniciadas as filmagens e em 1999 o filme ficou pronto.
Embora o longa-metragem tenha sido finalizado no ano passado, Alberto esperou um ano para captar recursos para o projeto Cinema em Movimento, que tem como foco visibilizar a produção em 22 estados, antes do lançamento comercial do filme.
O projeto, idealizado pelo próprio diretor, cria circuitos de exibição gratuita em universidades e locais em que o público não tem acesso às salas, sempre seguidos de debates. Os temas mais discutidos são ética na política e no jornalismo, narcotráfico, além das questões como roteiro, direção e técnicas de filmagem.
Narcotráfico sob um ponto de vista
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O ator Marcello Antony é Nando |
"O Dia da Caça é um filme premonitivo", diz Alberto Graça. Algumas das questões levantadas atualmente pela CPI do narcotráfico já estavam sendo estudadas pelo diretor quando ele escreveu a história, anos atrás. Vários dos dados citados no filme, além de algumas características dos personagens, fazem parte de dados verídicos sobre o tráfico pesquisados, pelo prórpio diretor, em um relatório da ONU realizado em 1997, e em artigos de jornais.
Para Alberto, o narcotráfico ameaça nossa soberania por uma questão de água. O diretor acredita que uma das causas para a invasão americana contra o tráfico na Colômbia seja o interesse pela água e Amazônia.
Elenco x Personagens
Quando perguntado sobre a escalação do elenco, o diretor diz que teve sorte. "O grande sucesso é montar a química, que pode tanto ser técnica, como dos atores". No caso de O Dia da Caça, pode-se notar uma grande afinação entre os atores, os personagens e a direção.
Para Marcello Antony, personagem principal do filme, "tudo o que se viu foi previsto pelo Alberto. Tudo está na mão da direção". Segundo o ator, a sintonia entre o elenco e os personagens deve-se ao eficaz trabalho de direção. "Mesmo quando havia improvisação, era uma improvisação marcada. Já definida anteriormente."
Personagens complexos e obscuros
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Felipe Camargo é o jornalista Raul Boal |
Um dos méritos do filme é a tênue linha entre o bem e o mal, o lado bom e malvado de cada pessoa retratada.
Segundo o diretor, as personalidades foram criadas para que fosse bem marcada esta passagem do bem para o mal. É dentro de um intenso trabalho de atuação e direção que se "pôde dilatar a psicologia dos personagens. O filme acaba humanizando-os ao mostrar o lado obscuro e ilmuninado de cada um".
Jonas Bloch é um policial corrupto, mas que joga com a dualidade de seu personagem. Para o ator, Branco possui uma carga emocional muito grande, vivenciada por policiais desta área. Segundo o ator, a convivência com os dois lados da moeda faz com que seja difícil distinguir quem é o bom e quem é o mau. "A beleza do personagem está na contradição que ele tem o tempo todo. Ele precisa manter a autoconfiança mesmo se estiver com uma arma apontada para sua cabeça."
Quando questionado sobre sua posição em relação a policiais, Jonas diz que "se as pessoas soubessem em que áreas os atores lançam-se às vezes, acabariam achando tão estranho como o comportamento dos policiais."
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O ator Paulo Vespúcio é o perturbado travesti Vander |
Outro personagem perturbador é o interpretado pelo ator Paulo Vespúcio. Vander é um travesti que possui intenso carinho por Nando (Marcello Antony), e o acompanha em sua missão com o narcotráfico. Mas, sua doçura e carinho é, muitas vezes, atropelada por seu lado agressivo e psicótico. Com uma luva de alfinetes, ele retalha suas vítimas até a morte.
O ator faz seu segundo papel violento. "Em Um Céu de Estrelas, Victor tinha uma violência masculina. Já Vander tem uma violência mais maternal. Ele passeia pelos lugares obscuros. Dentro de sua psicose, existe momentos de piedade e carinho."
Segundo o ator, foi um presente conhecer Vander. "Ele é um personagem muito próximo do humano, e me levou a lugares da alma que eu não passeio no meu dia-a-dia."
Produção e distribuição
O custo total de O Dia da Caça foi de 3,7 milhões de Reais, até o processo de cópias. A parte de distribuição está sendo feita separadamente.
A política comercial adotada foi a de lançar o filme inicialmente em circuito nacional alternativo, através do projeto Cinema em Movimento, partir para o lançamento nacional e, futuramente, o internacional.
Quando o assunto é período de exibição, diretor e elenco demonstram-se insatisfeitos com a atual política nacional que privilegia filmes americanos e europeus a filmes nacionais, diminuindo estrategicamente o período de exibição das produções nacionais.(Luciana Rocha)
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