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Sandra Bullock vive uma alcoólatra em "28 Dias"
A descrição da protagonista de "28 Dias" pode dar a impressão de que Sandra Bullock desistiu das personagens irresistivelmente meigas, concebidas para agradar. Gwen Cummings é uma escritora alcóolatra que destrói o casamento da irmã ao cair sobre o bolo e fugir com a limusine dos noivos, batendo o carro poucos metros depois. A faceta pouco simpática, no entanto, não vai além das primeiras cenas. Logo o espectador é convidado a torcer pela reabilitação da eterna heroína.
28 Dias reforça a qualidade de Bullock que a fez despontar em Hollywood: aquela aparente simplicidade que os americanos definem como "the girl next door" - a garota da casa ao lado. Como sua beleza não é nada fora do comum, a atriz seduz a platéia pela amabilidade. Ela é a garota com quem todos os homens gostariam de namorar e que todas as mulheres gostariam de ter como amigas.
Bebedeira maquiada
Para um roteiro com pretensão de discutir as agruras da recuperação de alcoólatras e drogados, 28 Dias carece de honestidade e profundidade emocional. As cenas que contêm os efeitos pós-bebedeira são maquiadas. Há uma preocupação evidente em não degradar muito a protagonista. O máximo que o roteiro lhe permite é perder a compostura, assim como quando dança destrambelhadamente até aterrissar sobre o bolo de casamento.
Mesmo as cenas que sugerem a desintoxicação de Gwen são amenizadas, mantendo a assunto confortavelmente na superfície. Até os motivos que levam a escritora a encher a cara constantemente são apenas sugeridos - por meio de seqüências em flash-backs de sua infância, quando a mãe bebia tanto a ponto de colocar a vida de Gwen e da irmã Lily (Elizabeth Perkins, na fase adulta) em risco.
Para garantir a leveza, o filme dirigido por Betty Thomas (de Doutor Dolittle) recorre à sátira, ridicularizando o processo de reabilitação. Desde o momento em que Gwen pisa no centro de recuperação, após ser condenada a pena de 28 dias por dirigir embriagada, a paciente desdenha dos procedimentos. Mas vale lembrar que as cantorias, os rituais e os slogans tipo lavagem cerebral a que os pacientes são submetidos nesses locais representam mesmo um material inesgotável para piadas.
Reputação salva
A caracterização caricata dos companheiros de Gwen também acentua a paródia. A escritora é convidada a "abrir o coração" diante de tipos estranhos: um stripper homossexual com sotaque alemão (Alan Tudyk), um jogador de baseball viciado em sexo (Viggo Mortensen) e uma adolescente mal-amada que busca conforto tanto na heroína quanto nas novelas de TV (Azura Skye).
Mas, por mais que o tom predominante seja o da comédia, o filme não abre mão dos momentos ditos como sérios, em que a protagonista precisa recuperar a saúde e fazer as pazes com a vida.
Inicialmente Bullock destila um pouco de cinismo, ao ridicularizar o casamento da irmã e ao duvidar do tratamento, mas não chega a colocar em risco a reputação de boa menina nas telas. A história é conduzida de tal forma que todas as suas extravagâncias alcoólicas acabam perdoadas. Até porque muitos não resistem quando ela abre aquele sorrisinho...
(Agência Estado)
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