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Esquisitices em excesso de "E aí, Meu Irmão, Cadê Você? " lançam os Coen no surreal



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De onde vem o sentimento de insatisfação produzido por E aí Meu Irmão, Cadê Você? No Festival de Cannes deste ano, era um dos filmes mais aguardados. Com Barton Fink - Delírios de Hollywood, os irmãos Coen - Ethan, produtor e roteirista, Joel, diretor - abriram o precedente de ganhar a Palma de Ouro, o prêmio de direção e o de ator (John Turturro), o que levou a uma mudança no próprio regulamento do evento, para impedir que o fato se repetisse.

Havia expectativa por E aí Meu Irmão. O filme não a segurou. Mas não é ruim. O problema é de outra ordem. O novo filme dos Coen - ou de Joel Coen, vá lá que seja - parece uma obra menos pessoal. Está mais para A Roda da Fortuna do que para Gosto de Sangue, O Ajuste Final e Barton Fink. Em matéria de humor, perde para Arizona Nunca Mais. Mas é errado pensar que se trata de um filme menos ambicioso. Talvez seja até o excesso de ambição que atravanca o projeto.

Baseia-se na "Odisséia", informam os créditos e, embora o próprio Ethan tenha dito, em Cannes, que se tratava de uma pista falsa - para agradar os críticos franceses, sempre tão intelectuais, ele ressaltou -, não é tão falsa assim. O conceito de odisséia é um tanto vago. Segundo o Aurélio, independe do poema clássico de Homero e pode designar qualquer viagem cheia de perpécias e aventuras. É o que ocorre com George Clooney e seus amigos em E aí Meu Irmão.

São três fugitivos da cadeia que viajam pelo sul profundo dos EUA, durante a depressão econômica dos anos 30. Clooney é Ulisses e o roteiro busca representações mais modernas para os heróis, sereias, deuses e monstros da narrativa homérica. Esse Ulisses consegue até mesmo reencontrar a sua Penélope, que está para se casar com outro. E não faltam homenagens e referências aos gêneros clássicos de Hollywood, pois os Coen são, como se sabe, cinéfilos.

Em 1941, Preston Sturges fez um filme considerado clássico - Contrastes Humanos, sobre um diretor, Sullivan (Joel McCrea), insatisfeito com o sucesso de suas comédias e que sonha rodar um filme engajado sobre a depressão dos anos 30. Esse filme dentro do filme chama-se O Brother, Where Art Thou? - exatamente como Contrastes Humanos se chama no original. Não é a menor das homenagens. A coreografia da Ku Klux Klan tem a ver com o estilo "geométrico" dos musicais de Busby Berkeley. E não é estapafúrdio dizer que esse filme poderia ter sido escrito por Barton Fink, o roteirista do filme com que os irmãos ganharam a Palma.

Sempre houve esquisitices no cinema dos Coen. Desta vez, eles extrapolaram e atiram os filmes no limite do surreal. A sereia que transforma os homens em sapos, o músico que faz o pacto com o Diabo (tema de A Encruzilhada, de Walter Hill), tudo isso é curioso, mas de certa forma dilui a história dos evadidos. Só a título de informação - houve quem citasse Fellini em Cannes, a propósito de E aí Meu Irmão. Todas essas influências aumentam a curiosidade, com certeza. Não é, nem de longe, um filme ruim. Mas não é preciso ser fã de carteirinha dos Coen para constatar que já fizeram coisas superiores. E nem é preciso citar a obra-prima de Ethan e Joel - Fargo, é claro.
(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)




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E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ VOCÊ?

Título Original: O Brother, Where Art Thou?
País de Origem:
EUA
Ano: 2000
Duração: 106 minutos
Diretor: Joel Coen e Ethan Coen
Elenco: George Clooney, John Turturro, Tim Blake Nelson, Charles Durning, John Goodman, Michael Badalucco, Holly Hunter










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