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Como um monge pode manter a mente nos estudos enquanto Ronaldinho joga pelo Brasil? Contrariando a visão ocidental sobre os monges budistas, segundo a qual eles seriam indivíduos sempre serenos e disciplinados, o filme não esconde suas paixões. Quem guia o espectador pela história é Orgyen, um garoto de 14 anos que só pensa em futebol. Ele usa camiseta do jogador Ronaldinho por baixo da túnica budista, organiza peladas em que a bola é substituída por uma latinha de refrigerante e ainda mantém um "santuário" na parede de seu quarto, onde cola fotos dos grandes craques do esporte. Para dar autenticidade à trama, que abre a discussão sobre o impacto da vida moderna sobre as rígidas tradições budistas, Norbu filmou em um monastério. Esse lama, reconhecido como a reencarnação de um santo budista do século 19, ainda preferiu utilizar atores não-profissionais. Escalou o elenco com verdadeiros monges tibetanos. Prêmio: ir à Disney - O filme foi rodado aos pés do Himalaia, no monastério Chokling, onde mora Jamyang Lodro, que interpreta o protagonista Orgyen. Detalhe: em troca do trabalho como ator, esse garoto nascido e criado em acampamento de refugiados do Tibete pediu ao cineasta uma viagem à Disneylândia. Todo o processo de filmagem foi curioso. A comunidade do mosteiro aceitou interromper os trabalhos por dois meses, mas não abriu mão de certos costumes. Todos acordavam às 4h para fazer suas orações antes das filmagens. Como os monges não tinham idéia de como é feito um filme, Norbu achou melhor que os atores não decorassem o texto. O diretor simplesmente os orientava cena por cena, dizendo na hora as suas falas. O próprio Norbu não é expert no assunto. Por ter sido criado entre os budistas, ele foi consultor técnico de O Pequeno Buda, produção de 1994 dirigida por Bernardo Bertolucci. A participação motivou-o a fazer um curso de cinema de três semanas na New York Film Academy e a realizar dois curtas em vídeo. Além da pouca experiência, não faltaram obstáculos para realizar a primeira produção cinematográfica do Butão. Norbu precisou do apoio de um produtor britânico, Jeremy Thomas (de O Pequeno Buda), para conseguir o empréstimo de US$ 650 mil para rodar o filme. Depois foi preciso alugar uma câmera no país mais próximo e, ao mesmo tempo, onde o aluguel custasse menos: a Austrália. Ao sair do avião, o equipamento ainda demorou uma semana para chegar de carro ao set de filmagem. A trama é baseada em fatos reais. Norbu conta em entrevista no site do filme (www.thecup.co.uk) que buscou inspiração em alguns de seus alunos. Revela que eles eram tão fanáticos por futebol que realmente escapuliam do monastério para acompanhar as partidas. Alguns chegavam a dedicar suas orações à vitória do time favorito (um detalhe não explorado no filme porque, segundo Norbu, ninguém acreditaria). Foi essa lembrança que o motivou a localizar a história dias antes da decisão da Copa de 1998, quando Ronaldinho foi a sensação do torneio. Há cenas em que eles riem ao ver fotos de mulheres de lingerie, trocam bilhetinhos com os resultados do campeonato durante cerimônias e saem às escondidas na madrugada para ver as partidas do torneio. Orgyen até faz uma proposta indecorosa ao seu superior. Promete se concentrar nos estudos, caso possa trazer ao monastério um televisor para assistir à final do torneio. Mas o retrato realista, que mostra os monges como homens comuns, não afasta Norbu de suas origens. Ele é guia de dois centros de meditação, faz questão de passar alguns meses do ano em retiro espiritual e ainda usou um oráculo tibetano para solucionar dúvidas durante as filmagens. Até mesmo para decidir entre filme Fuji ou Kodak. (Agência Estado) Leia mais:
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Título Original: Phörpa |
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