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"Dogma" polemiza, mas não convence
Dogma narra a história de dois anjos, Loki (Matt Damon) e Bartleby (Ben Affleck), cujos comportamentos não condizem com seus intuitos celestiais, levando-os a serem condenados a viver na Terra para sempre. Revoltados, eles descobrem que há uma possibilidade de entrarem escondidos no paraíso, através de uma igreja em Nova Jersey.
Na viagem rumo à costa leste, vão causando um verdadeiro inferno com mortes e humilhações, ameaçando todos os humanos que cruzam seus caminhos. Apesar de toda a desgraça, uma pessoa poderá salvar a humanidade.
Bethany (Linda Fiorentino) é uma católica em crise escolhida para a tarefa. Dois profetas, com visão muito particular do mundo, estarão ao seu lado. Jay e Silent Bob irão ajudar a eleita. Eles são os personagens urbanos com mentalidade adolescente, presentes em todos os filmes de Smith, aliás, o próprio Smith interpreta Silent Bob.
Com uma narrativa poluída, recheda de palavrões e referências à estética pop de cinema e gibis, entram em cena vários personagens, que geralmente caem do céu num trovão ou aparecem numa cortina de fumaça. Um deles é Rufus (Chris Rock), que cai nu do céu, numa auto-estrada, para ajudar Bethany, o outro é a Voz de Deus (Alan Rickman), um anjo secretário de Deus, além da musa Serendipity (Salma Hayek), dançarina stripper.
É engraçado pensar como tanta polêmcia pode ter sido levantada por um filme juvenil e sem grandes preocupações. Depois de tanta discussão e ameaças de censura, o tão falado Dogma, chega aos cinemas nacionais.
Apesar do falatório, o filme não convence, deixando o espectador completamente perplexo frente a situações ridículas e, pior de tudo, sem graça. Uma delas é a aparição de Alanis Morissette como Deus. A cantora entra muda e sai calada. Ela não pode soltar sua voz, pois os humanos morreriam.
Para uma comédia, Dogma chega a ser dramático com tantas forçadas no roteiro e nos diálogos. Os personagens são fracos, mal resolvidos, e ficam no lugar-comum.
A história que se dispõe a questionar os dogmas da igreja católica fica na superficialidade das discussões. O que se vê é um apanhado de piadinhas e um "revival" de produções adolescentes tipicamente americanas.
Um destes casos é o demônio de excremento que aparece para impedir que o grupo do bem continue sua viagem para Nova Jersey.
Sua aparência é igual a do irmão militar de um dos garotos do filme Mulher Nota 1000, cuja personagem é construída pelo computador.
O mais novo filme de Kevin Smith está longe de O Balconista, produção que o lançou como cineasta alternativo. Apesar de boas idéias, o diretor perde-se em histórias paralelas, deixando o filme com um roteiro frouxo, sustentando-se por si só, sem consistência de argumentação e questionamento.
Quem esperava ver Dogma como uma crítica sobre o Catolicismo, pode tentar esquecer. Os ataques não são sérios, e não chegam a aprofundar-se.
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