|
Frears está de volta com "Alta Fidelidade"
Depois de fazer sensação no Festival do Rio BR 2000, Alta Fidelidade passou arrebentando pela 24.ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo. Havia filas imensas no domingo, no Conjunto Nacional, para ver o filme que Stephen Frears dirigiu baseado em Nick Hornby. É uma comédia neurótica, mas divertida e permeada de emoção. John Cusack é co-produtor, co-autor do roteiro e protagonista absoluto do filme. Passa o tempo todo falando diretamente para a câmera. Quem ficou de fora das sessões lotadas de Alta Fidelidade não precisa mais se sentir excluído. O filme estréia nesta sexta e em grande circuito.
Alta Fidelidade é bom, claro, mas para achá-lo muito bom o espectador precisa ser familiarizado com o universo da cultura pop. Saber tudo sobre bandas, roqueiros, quem influenciou quem. Aí sim o filme é delicioso, um regalo. Os estranhos no ninho poderão ressentir-se um pouco, mas também vão apreciar o tratamento dado ao tema do casal. É um filme sobre o amor na passagem do milênio. Tenta explicar aos homens o que são as mulheres (e vice-versa). A publicidade, não sem razão, o define como uma comédia sobre o medo dos relacionamentos, sobre o amor, o desprezo pelo trabalho e outros hits do mundo moderno.
Nick Hornby virou um desses fenômenos recentes das letras. Seus livros são cultuados por leitores que o consideram o máximo. Inspirou a peça A Vida É Cheia de Som e Fúria, que participou do Festival de Curitiba e depois fez carreira em São Paulo. Hornby é inglês, como o diretor Frears, mas a ação do filme foi transposta de Londres para Chicago sem prejuízo. Para o co-roteirista D.V. DeVincentis, todo mundo que lê o livro de Hornby fica convencido de que a história é sobre si mesmo. "Os elementos são universais e foi nessa perspectiva que quisemos contar a história." Frears vai na mesma linha para explicar por que assumiu a direção do projeto, quando seu amigo John Cusack, que já dirigira em Os Imorais, o chamou.
"É muito engraçado, muito rico e irônico; é simplesmente toda a verdade sobre os homens." Apesar das diferenças (de quadro, não de tom), o filme marca o retorno do cineasta à vertente de A Grande Família e The Van, com a diferença de que Hornby é mais sofisticado, ou simplesmente pop, do que Roddy Doyle, que forneceu a inspiração para aqueles filmes. Alta Fidelidade virou fenômeno e instituiu um modismo. Rob, o protagonista, vive fazendo listas - as cinco coisas de que mais gosta, as cinco que detesta, as cinco profissões que gostaria de ter, as cinco músicas preferidas de fossa, as cinco de morte. A relação é interminável. Você pode fazer listas sobre praticamente tudo. Rob faz uma lista das cinco separações traumáticas de sua vida. Elas incluem desde relações na pré-adolescência, quando a garotinha que o beijou num dia no outro já estava beijando outro menino. Rob carrega o trauma pela vida. Sente-se rejeitado crônico. Está sendo sempre trocado por outro. O começo da história dá-lhe razão. A namorada Laura, está deixando sua casa, mas Rob ainda não sabe que ela está indo morar com outro.
É preciso acrescentar que ele possui uma loja especializada em raridades de vinil, o que permite a Rob e seus dois vendedores tecerem uma série de comentários sobre música pop. Também permite ao próprio filme apresentar uma das trilhas mais elaboradas, e só aparentemente casuais, dos últimos tempos. Tudo o que você pode imaginar está lá. Bruce Springsteen, Bob Dylan, Lou Reed, Velvet Underground, Queen, Elvis Costello, Steve Wonder, Marvin Gaye, Aretha Franklin, Freddie Mercury, Burt Bacharach - a relação é maior que o espaço desse artigo.
Estabelecida a lista das cinco separações mais dolorosas rolam as histórias, sendo uma das melhores a que traz a esplendorosa Catherine Zeta-Jones como Charlie. Laura, a princípio excluída da lista, ganha lugar cativo quando Rob fica sabendo do outro - interpretado, em participação especial hilária, por Tim Robbins. Outra boa participação é a de Joan Cusack, irmã de John, que contracena com ele como Liz, a amiga que não quer tomar partido na separação entre Rob e Laura, mas, quando o faz, fica totalmente a favor dela.
Mas a grande surpresa do filme é proporcionada por Iben Hjejle, um nome difícil para a gracinha loira que faz Laura. Nascida em Copenhague, essa atriz dinamarquesa teve passagem pelo Dogma, integrando o elenco de "Mifune", de Soren Kragh-Jacobsen. Se você não prestou atenção na atriz que fazia a prostituta Liva, tem agora a chance de redimir-se.(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)
|