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Jim Carrey volta ao humor com "Eu, Eu Mesmo & Irene"
Só falta Hollywood se render à evidência - o palhaço é um grande ator. Jim Carrey provou-o em O Show de Truman - O Show da Vida e, principalmente, O Homem na Lua. Mas nunca abandona a comédia, que o consagrou, a partir do sucesso de O Máskara. Carrey é de novo a alma de Eu, Eu Mesmo & Irene que estréia em grande circuito. O novo filme dos irmãos Farrelly tem tudo para estourar.
Eles fizeram Debi & Lóide com Carrey, depois Quem Vai Ficar com Mary?, com a linda Cameron Diaz. Quem viu esses filmes sabe qual é a praia dos irmãos. Seu humor é politicamente incorreto, o que de imediato já os transforma em figuras à parte no asseptizado panorama do cinema americano da atualidade. Hollywood é aquele lugar do mundo em que milhares de pessoas podem ser trucidadas em cena. Isso é normal, dentro da estética da violência praticada pelos grandes estúdios. Lá é muito mais escandalosa qualquer tentativa de investigar em profundidade os abismos daquilo que se chama de "alma humana".
Carrey faz um esquizofrênico em Eu, Eu Mesmo & Irene. Interpreta um patrulheiro com um problema de dupla personalidade. Enquanto Charlie é o policial bem amado de uma pequena cidade do estado de Rhode Island, Hank que surge quando o primeiro esquece de tomar sua medicação comete as mais loucas atrocidades. A missão de "ambos" é levar uma jovem (Renée Zellweger), que cometeu uma infração de trânsito, de volta a Nova York. A caracterização do ator despertou polêmica.
Aliás, é um dos pontos responsáveis pela polêmica que o filme despertou nos EUA. Associações de médicos e psicanalistas vieram a público chamar os irmãos Farrelly de ignorantes, acusando-os de confundir com esquizofrenia o que é, na verdade, um caso de dupla personalidade.
O herói é policial. Acostumou-se a reprimir suas emoções e absorver todos os golpes da vida. A mulher, por exemplo, em pleno dia do casamento, apaixona-se por um anão, com o qual termina fugindo. Deixa três filhos - afro-americanos balofos que amam o pai (Carrey) como se fosse o verdadeiro. O herói desenvolve uma personalidade agressiva para enfrentar a dura realidade. Numa cena decisiva, essas duas personalidades entram em choque, o que permite a Carrey brigar consigo mesmo, com todas as caras e bocas que constituem o seu arsenal para fazer rir.
Eu, Eu Mesmo & Irene é O Médico e o Monstro dos Farrelly. Eles não poupam ninguém. Negros, anões, albinos. Tudo o que é diferente é motivo de riso. As piadas são machistas. Mas há ternura nesse humor troglodita. Há, acima de tudo, humor. Tente não rir, se for capaz.(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)
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