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"Sabor da Paixão" é macumba brasileira para turista
Diretora de certa ambição intelectual, a venezuelana, radicada em Paris, Fina Torres ouviu o canto da sereia e foi cooptada por Hollywood para fazer Sabor da Paixão. O filme é macumba brasileira para turistas. Quase matou de vergonha os críticos brasileiros quando passou, fora de concurso, no Festival de Cannes, em maio. A crítica internacional não reagiu tão mal.
É uma fantasia sobre o Brasil e, mais que isso, sobre a mulher brasileira, que Fina considera cheia de graça, como na letra da música. Só que ela não achou nenhuma atriz brasileira de projeção - uma exigência da produtora Fox - para o papel. Escolheu uma espanhola, a deslumbrante Penelope Cruz, para fazer Isabela. Em Cannes, com o ar mais inocente do mundo, a cara de quem realmente acreditava no que dizia, Fina observou que, afinal de contas, somos todos latinos, não?
Seu objetivo é, claramente, uma retomada de Como Água para Chocolate, do mexicano Alfonso Arau. Isabela ama Toninho (Murilo Benício), mas não agüenta as sucessivas infidelidades do parceiro. Vai para os EUA e vira estrela da TV, apresentando um programa de culinária. Sexo e comida, mais uma vez, combinam.
Como a diretora é esotérica, há um feitiço para Iemanjá que precisa ser quebrado para que o amor de Isabela e Toninho triunfe. Toninho chega a gritar que nem Iemanjá vai conseguir separá-los. Há tanta coisa ridícula - Benício, de malandro, cantando na cadeia - que o filme vira folclórico. Mas há coisas boas - o tratamento digno dado ao homossexual. Difícil, mesmo, é resistir a Penelope. Fina, afinal, estava certa. Com ela o filme fica menos ruim.(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)
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