|
"Beleza Americana" traz clichês escondidos pela poesia
É muito difícil classificar Beleza Americana. Um filme que se encaixa em diversos gêneros e agrada gostos tão díspares não pode ter uma definição simples. Além de tudo, é classificado como transgressivo, mas concorre ao Oscar, e é o mais cogitado para recebê-lo.
Talvez o que realmente seja a grande atração de Beleza seja essa diferença, essa caoticidade de gêneros dentro de uma história engraçada e comovente, com pitadas de voyeurismo e violência.
Beleza Americana não é a oitava maravilha do mundo, mas uma das melhores produções americanas da atualidade. O grande mérito da produção não é sua acidez em relação à crítica que faz da sociedade classe média americana. Isso já foi visto, já se fez, e é uma das grandes vertentes da cultura anos 90 da América.
O que realmente é o trunfo do filme são as imagens paralelas à história criadas por um dos personagens: o vizinho da tal família infeliz, o traficante e videomaker Ricky (Wes Bentley).
Com olhar enigmático e quase doentio, ele nos leva por caminhos subjetivos em imagens que aparecem como poemas, com leveza e força de palavras.
O filme já ganhou três Globos de Ouro e concorre a oito categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator, Atriz e Roteiro.
Beleza Americana não foge do molde aprovado pela Academia Americana, mas esconde seus clichês com originalidade e perspicácia. Não que a velha história da família infeliz não esteja lá. Pois há um pai que não gosta do trabalho e já não mantém contato com a esposa Martha (Annette Bening), uma agente imobiliária cuja maior ambição é "manter uma aparência de sucesso". Não entende a filha adolescente, e esta os odeia.
Mas, em Beleza Americana ainda sobra uma ponta do novo, da mudança, da revolução. Talvez, disseminada pelo personagem de Kevin Spacey, Lester Burnham, que larga o trabalho, compra um carro novo, volta a fumar maconha e tenta conquistar a amiga da filha.
A história é banal e sem originalidade, mas todas as qualidades de Beleza Americana acontecem pela intensidade dramática atingida pelos atores.
Kevin Spacey (indicação de melhor ator) é o dono da cena, infalível em seu olhar irônico-sarcástico. Annette Bening (indicação de melhor atriz) transpira por todos os poros a ansiedade de sua personagem. E Wes Bentley é o grande personagem poeta, que revela-se com elegância.
|