Jim Carrey é o destaque de "O Mundo de Andy", novo filme de Milos Forman
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E se o Oscar, para variar, fosse honesto? O Mundo de Andy, de Milos Forman, teria concorrido ao prêmio da academia, em março, e Jim Carrey teria sido indicado para melhor ator. Carrey é extraordinário como o comediante Andy Kaufman. O sonho do palhaço é ser reconhecido como ator dramático. Pelo menos o de Carrey é. Entre comédias populares, de humor muitas vezes escatológico e duvidoso, ele tem feito escolhas sérias e ousadas. O talento dramático que revelou em O Show de Truman, o Show da Vida, de Peter Weir, ele multiplica por dez em O Mundo de Andy.
Chama-se Man in the Moon, no original, como a música que o R.E.M. dedicou a Andy Kaufman no CD "Automatic for the People", de 1992. No Brasil ficou sendo O Mundo de Andy. Poderia chamar-se Um Estranho no Ninho, como o filme que Forman adaptou do romance de Ken Kelsey, ganhando o Big Five (os cinco principais Oscars) em 1975. Andy Kaufman é mais um estranho no ninho na galeria de personagens que Forman filma para desvendar, criticamente, a América.
Um Estranho no Ninho usa loucos para discutir o próprio conceito de sanidade do sistema. Na Época do Ragtime é o maior ataque ao racismo contra o negro de toda a história de Hollywood. O Povo contra Larry Flynt finge que vai falar de pornografia, mas na verdade quer é discutir essa ficção americana - a liberdade de imprensa. Nascido na Checoslováquia, americano naturalizado, Forman viveu sob o nazismo e o comunismo. Conheceu todas as formas de autoritarismo e totalitarismo. Nunca foi um conformista, mas considera-se um covarde por nunca ter tido coragem de fazer coisas ultrajantes como Larry Flynt, o pornógrafo que criou a revista masculina "Hustler", e Andy Kaufman.
Se esse último não tivesse existido teria de ter sido inventado. Esse homem foi uma lenda. Um comediante disposto a qualquer coisa para sacudir a América de sua mesmice. Quem conviveu com ele jura que era impossível, para alguém, dizer que conheceu Andy Kaufman. Ele escapava a todas as definições e catalogações. O próprio Forman disse que fez o filme para entender a diversidade e a pluralidade.
Quando esteve no Brasil para lançar Gigolô por Acidente, Rob Schneider não poupou elogios a Forman nem a Carrey. Mas fez a ressalva de que o personagem era incômodo demais para ser entendido pelas platéias americanas. Andy Kaufman virou mito para os próprios comediantes. Seu codinome poderia ser provocação. Dono de um estilo que trafegava entre a mais 
elaborada interpretação teatral e o escracho, Kaufman estourou na sitcom Táxi por sua criação como Latka Gavras, um personagem que caiu no gosto do público.
Outro talvez ficasse dando ao público o que ele queria. Kaufman usou Latka como trampolim para outras coisas. Odiava a repetição. E chegava a ofender as platéias, se necessário fosse, se com isso tivesse a certeza de garantir o impacto que buscava para o seu trabalho. Simulava lutas, enfrentava mulheres num ringue improvisado, criou um alter ego grosso e vulgar, Tony Clifton. Era difícil saber quando era ele mesmo ou estava representando. As próprias pessoas ao seu redor nunca tinham certeza de nada a seu respeito. Desconfiaram até quando Kaufman, então com 35 anos, anunciou que estava morrendo, vítima de um tipo raro de câncer no pulmão. Era um personagem único e múltiplo. Tão marcante nesse negócio de não levar-se a sério que fez piada da própria morte, dando um jeito de aparecer fazendo rir no próprio enterro.
Forman admite que foi atraído pelo personagem por reconhecer nele uma patética figura de múltiplas identidades. Por meio de Andy Kaufman o cineasta insiste na sua crítica à América como fábrica de sonhos. É mais um belo filme de um dos grandes do cinema na atualidade. E tanto faz que tenha sido esnobado pela Academia de Hollywood. Às vezes, ser esnobado é a melhor garantia de ser bom.(Agência Estado)
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