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"A Terceira Morte de Joaquim Bolívar" é o ambicioso filme do estreante Flávio Cândido



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Poderia chamar-se, em vez de A Terceira Morte de Joaquim Bolívar, "A Segunda Morte de Gláuber Rocha". O cineasta em transe de Deus e o Diabo na Terra do Sol é personagem da ficção do estreante Flávio Cândido, interpretado pelo também cineasta Sérgio Santeiro. Não é preciso ser glauberiano de carteirinha para saber, ou pelo menos imaginar, que de Gláuber devia emanar uma grande força, caso contrário ele não teria sido a personalidade dominante que foi, no quadro do Cinema Novo. O Gláuber de Santeiro e Cândido não tem força nem carisma, mas sua presença é fundamental no filme que estréia amanhã.

É ruim, é bom que se diga logo. É ruim porque não consegue cristalizar suas idéias em mise-en-scne. Cândido dá a impressão de filmar não importa como, embora não filme não importa o quê. Há uma reflexão ambiciosa (até demais) por trás das imagens mais desconexas do que outra coisa qualquer, desse filme. Existem idéias. Cândido quer discutir o Brasil, em sua totalidade. Quer entender, política e
Envie esta página para um amigosocialmente, o País. Não é tarefa pequena, nem destituída de significação e interesse. Mas é desmesurada para as limitações de quem ainda não domina o ofício de filmar.

A ficção de "Joaquim Bolívar" estrutura-se sobre dois personagens básicos - o barbeiro (Sérgio Siviero) e o coronel, interpretado pelo glauberiano Othon Bastos (de Deus e o Diabo e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro). Logo no começo, um homem, o barbeiro, é morto pelos asseclas do coronel. Segue-se o flash-back que começa com o personagem na estrada, pegando carona de um carroceiro. Esse também interpretado por um ator glauberiano, Antonio Pitanga, ex-Sampaio (de Barravento), é da umbanda e, num transe místico, antecipa para o barbeiro que ele terá três vidas e, conseqüentemente, três mortes.

Essas três vidas se passam num embate permanente entre o barbeiro e o coronel. Representam a esquerda e a direita. O barbeiro liga-se ao comunista (Jonas Bloch) e juntos tentam subverter a ordem na fictícia cidadezinha de Burruchaga, dominada com mão de ferro pelo coronel Gaudêncio (que nem coronel é). Passam-se os anos, Joaquim Bolívar morre uma, duas e três vezes, como indica o título, sem nunca envelhecer e atravessando acontecimentos significativos na história do Brasil (e do mundo) nas últimas décadas. O golpe militar de 64, a anistia e o fim do AI-5 em 1979 e a época atual fornecem os três blocos da narrativa e o filme não se propõe só a criticar (já que denunciar seria chover no molhado) a ligação do capital nacional com o internacional, a corrupção dos políticos e administradores do País. Cândido quer discutir a própria esquerda brasileira e, para isso, usa os personagens de Siviero e Bloch.

Ao mostrar seus personagens como gente que não envelhece Cândido queria expor sua tese sobre o Brasil. Esquerda e direita permanecem as mesmas, por mais que mudem os acontecimentos e a sociedade evolua. Em julho de 1997, ele anunciou seu propósito de retomar a vertente política do Cinema Novo e fazer um cinema de autor, sem concessões. "Não quero fazer filmes para quem só pensa em pizza depois da sessão", disse. O objetivo é ambicioso e generoso também, no seu engajamento, na sua vontade de dizer as coisas. Mas o resultado não convence.

Um dos problemas é o roteiro, que lida com conceitos e não estrutura nem os personagens nem as situações. O mais surpreendente é que esse roteiro teve o aval do Sundance, foi discutido (e aprovado) por gente famosa do cinema do País e do exterior, no primeiro seminário do gênero realizado no Brasil, em Búzios. Cândido queria criar polêmica. Corre o risco de só provocar o tédio com sua narrativa canhestra.
(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)

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    A TERCEIRA MORTE DE JOAQUIM BOLÍVAR

    Título Original: A Terceira Morte de Joaquim Bolívar
    País de Origem:
    Brasil
    Ano: 1999
    Duração: 104 minutos
    Diretor: Flávio Cândido
    Elenco: Sérgio Siviero, Othon Bastos, Jonas Bloch, Maria Lúcia Dahl, Antônio Pitanga, Grainger Hines, Camilo Bevilácqua










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