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Gosto de Cereja desafia olhar sobre o suicídio
O cineasta Abbas Kiarostami é uma exceção rigorosa ao mimetismo de valores que domina a produção cinematrográfica atual. Concebendo filmes simples, com atores não profissionais, o cineasta faz da transparência uma arma para captar imagens de uma país cindido pelos conflitos religiosos e pela dureza da sobrevivência. A reestréia de O Gosto da Cereja é a oportunidade de descobrir porque o júri do Festival de Cannes concedeu a Palma de Ouro ao grande cineasta, que dividiu os louros com Shohei Imamura, de A Enguia. A própria trajetória do filme até Cannes já revela seu caráter subversivo. Kiarostami foi proibido de participar da competição pelas autoridades iranianas. As imagens de uma país ressecado pelos conflitos religiosos e pela militarização da vida certamente não era o melhor filtro para os olhos dos incansáveis censores iranianos. Sob pressão da comunidade internacional, Kiarostami inscreveu o filme faltando apenas um dia para o início do festival. O início é perturbador, e já foi tomado como uma aproximação tipicamente gay. O protagonista (Homayoun Ershadi) percorre de carro as ruas de Teerã. Oferece dinheiro a um soldado, um seminarista e um taxidermista, homens comuns. Quem pensa que ele está à procura de um parceiro sexual sofre um choque. Na verdade, a procura é por um homem que o enterre, pois decidiu matar-se. O espectador não consegue esclarecer os motivos do suicídio, e sai do cinema com o mistério das motivações e dos instintos de vida e morte pairando sobre as indagações que o filme oferece. (Cássia Borsero)
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GOSTO DE CEREJA
Título Original: Le Septième ciel |
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