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Obra de García Márquez vira filme nas mãos de Arturo Ripstein



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Desde o tempo da escola secundária, quando tinha lições de literatura clássica, Arturo Ripstein sempre foi atraído pelas personagens míticas de Medéia e Antígona. Após a estréia de Ninguém Escreve ao Coronel no Festival de Cannes, no ano passado, ele ficou um tempo sem saber o que fazer. Voltou-se para Medéia, cuja atualidade lhe parecia indiscutível, e dirigiu Así Es la Vida, que estreou em Cannes, este ano. E logo desenvolveu rapidamente outro projeto. Fez La Perdición de los Hombres, também (como Así Es la Vida) com tecnologia digital. La Perdición é uma das atrações anunciadas da 24.ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que começa no dia 18.

É tempo de falar de Arturo Ripstein, o maior diretor do México. Ele mantém uma relação ambivalente em relação ao título que ostenta, conferido por críticos de todo o mundo. "Quando comecei essa carreira queria ser o melhor, acho que é o desejo normal de qualquer pessoa, em qualquer carreira, mas quando alguém me diz isso, como você está fazendo agora, fico desconcertado," observa durante a entrevista, feita por telefone, da Cidade do México. Acha que Ninguém Escreve ao Coronel foi um dos filmes mais difíceis de sua carreira. Difícil de fazer, tecnicamente. "Nos últimos anos desenvolvi esse método à base de tomadas longas, quase sem cortes; é impossível fazer isso num filme basicamente com dois personagens com muitas cenas de interiores." "Coronel" exigiu-lhe muita elaboração, muito esforço até mesmo físico. Sentia-se extenuado no fim da rodagem.

Conta que fazer filmes é um presente de Deus, mas com ele vem uma maldição - ter de ver esses filmes. Sua regra é - não rever nunca, em circunstância alguma, qualquer dos filmes que dirigiu. Mas acha que fez de "Coronel" um filme digno. Não poderia ser menos. Era jovem quando leu a novela de Gabriel García Márquez. Imediatamente tentou adquirir os direitos. O escritor lhe dizia que os cederia, de graça, quando ele estivesse pronto. "Foram necessários 33 anos para que Gabo me considerasse apto a adaptar seu livro", diz.

Quando era jovem, quis adaptar a novela porque os personagens lhe pareciam decentes. "Teria feito um filme sobre a dignidade", diz. Com a maturidade, sua visão foi mudando. "O que me atraiu agora foi o tema do amor, esse amor que não se assume mais, que ficou reduzido a cinzas." Para desenvolver o tema do amor, a colaboração de sua mulher, a roteirista Paz Alícia, deve ter sido fundamental, observa o repórter. Ripstein concorda. "No livro, a personagem da mulher é secundária, Alícia colocou-a no primeiro plano, transformou-a em interlocutora." O personagem do coronel é fraco, ele explica. Muito passivo. Exigia uma mulher forte, determinada. Paz Alícia desenvolveu assim a personagem interpretada por Marisa Paredes.

É o lado feminista do filme, diz o repórter. "Feminista?", Ripstein pergunta. "Paz Alícia não é feminista, é feminina." Conta que a mulher chegou a ser expulsa de um grupo feminista porque as militantes a consideravam muito feminina. Mas, é verdade, acrescenta. "Quando escreve, Paz Alícia diz que usa bigodes e trata de desenvolver sua porção masculina." E foi assim que surgiu, nas telas, a história do velho que vive na expectativa de uma carta que nunca chega, num lugar do fim do mundo, ao lado de uma mulher a quem não ama mais. Um filme digno, como diz o diretor, mas triste - mais do que o livro que lhe deu origem.

Com Así Es la Vida, Ripstein descobriu a tecnologia digital. Em primeiro lugar, o que o atraiu foi o impacto financeiro. "O digital baixa o custo e isso é importante em países como o México, ou o Brasil, com suas economias sempre deprimidas." O baixo custo tem outro efeito decisivo - "Como o filme custa mais barato, não se arrisca tanto, pode-se ousar mais." A conseqüência é uma liberdade como o diretor nunca havia experimentado antes. Com a liberdade, vem também a insegurança, mas ela é estimulante. "Era mais seguro filmando com celulóide, como aprendi a fazer cinema." Explica - "O olhar da gente muda, é uma porta que se abre, ainda engatinhamos rumo ao desenvolvimento do que será essa nova estética digital."

No início, quando se decidiu a fazer a sua Medéia, ele achou que poderia escrever o roteiro sozinho. Queria fazê-lo. Disse a Paz Alícia. Ela concordou, ou pareceu concordar. Um dia, irrompeu no escritório dele agitada e disse que se ele ia mesmo fazer uma Medéia o roteiro teria de ser ela. "Essa louca sou eu", sentenciou. Escreveu o roteiro em três semanas. Ripstein pediu-lhe que respeitasse os cânones aristotélicos; queria unidade de tempo e espaço, o coro. Paz Alícia começou usando os vizinhos da sua Medéia abandonada pelo marido boxeador. "As primeiras idéias quase nunca são as melhores e ela evoluiu para a presença da televisão, criou esse coro formando um trio de cantores que se apresenta na televisão."

De volta de Cannes, Ripstein chegou à conclusão de que queria fazer outro filme com tecnologia digital. Em julho já estava gravando La Perdición de los Hombres. No mês passado, o filme foi exibido (e premiado) no Festival de San Sebastián. É a história de um homem que é morto por dois amigos. "É a história de um homem morto por suas mulheres e pelo beisebol", resume o diretor. Ele completa dizendo que se Así Es la Vida é uma tragédia temperada pelo humor, La Perdición de los Hombres é o contrário - uma comédia temperada pela tragédia.

Adora o filme. Aproveita para um esclarecimento. Em todo o mundo ele é conhecido como o ex-assistente de Luis Buñuel. Conta que teve o privilégio de conhecer o mestre muito cedo, por meio do pai, o produtor Alfredo Ripstein, responsável por mais de 300 filmes. Conta que decidiu virar cineasta depois de ver Nazarín, cujo impacto sobre ele foi devastador. Pediu a Buñuel que o deixasse freqüentar o set de O Anjo Exterminador. Ficou lá do primeiro ao último dia de rodagem, vendo como ele trabalhava. "Mas assistente, mesmo, nunca fui."
(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)



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NINGUÉM ESCREVE AO CORONEL

Título Original: El Coronel no Tiene quiem le Escriba
País de Origem:
México/França/Espanha
Ano: 1999
Duração: 99 minutos
Diretor: Arturo Ripstein

Elenco: Fernando Luján, Marisa Paredes, Salma Hayek, Rafael Inclán, Ernesto Yáñez, Daniel Giménez Cacho, Esteban Soberanes, Patricia Reyes Spíndola










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