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"O Einstein do Sexo" retrata o preconceito contra os homossexuais
O filme de Rosa von Praunheim baseia-se na figura do dr. Magnus Hirschfeld, um judeu assumidamente homossexual e socialista que fundou, em Berlim, em 1897, o primeiro grupo político gay da história. Hirschfeld também abriu, na capital alemã, seu Instituto de Ciências Sexuais, em 1920. Desenvolveu um trabalho importante no combate ao conceito do homossexualismo como patologia.
Não admira que tenha sido perseguido pelos nazistas. Teve de deixar a Alemanha e exilar-se na França, onde morreu, em 1935.
Sua história não poderia nem deveria ser contada como farsa. Ganha o tratamento adequado - dramático e contundente - por parte de Rosa von Praunheim. Apesar do nome, Rosa nasceu homem. Fez-se Rosa como um projeto de arte e vida. Rosa nasceu em Riga, em 1942. Estudou pintura e belas-artes em Berlim, nos anos 60. Em 1968, tornou-se assistente do cineasta underground Gregory Markopoulos. No mesmo ano, iniciou sua obra autoral, obtendo grande repercussão com um semidocumentário de título esclarecedor - "Não É o Homossexual Que É Perverso, mas a Situação em Que Vive".
Outro título importante de sua filmografia é "Um Vírus não Tem Moral", sobre o HIV.
Rosa von Praunheim não é um mero exibicionista com nome de travesti. É alguém que trabalha seriamente na militância gay, não para convencer quem quer que seja a se tornar homossexual, mas para fazer com que o gay seja aceito e respeitado como indivíduo. Não é o homossexual que é perverso, mas a situação em que vive em sociedades discriminatórias e repressivas.
A vida do dr. Hirschfeld é evocada de forma a, mais uma vez, expressar a tese na tela.
O protagonista é evocado por meio de um amor impossível (com o barão Von Teschenberg), dos anos felizes com o jovem Karl Giese e da amizade com o travesti Dorchen, que o filme retrata como figura de grande inteligência e coragem. Não é só uma história de amores e de amizade. É uma história de resistência, também. Hirschfeld teve um oponente feroz, o escritor de direita Adolf Brand. Logo em seguida, outro Adolf, mais direitista ainda subiu ao poder na Alemanha e tentou destruir a obra do dr. Magnus, para provar a superioridade do macho ariano.
Há momentos divertidos em O Einstein do Sexo, mas o filme não foi feito para pura diversão das platéias GLST. Gays, lésbicas, simpatizantes e transgêneres vão ter de defrontar-se com essa figura adiante de seu tempo. Em 1931, quando os jornais americanos lhe deram o apelido de "Einstein do sexo", ele tinha tanta convicção da validade e necessidade de sua luta que disse que aceitava o título, mas Einstein é quem devia ser chamado de "Hirschfeld da física".(Agência Estado)
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