|
Poesia percorre A
Eternidade e Um Dia
Escritor encontra esperança num garoto |
O
cinema denso e poético de Theo Angelopoulos, um dos grandes
diretores da década, faz sua aparição com o A
Eternidade e Um Dia, vencedor
tardio da Palma de Ouro em Cannes.
O
prêmio já devia estar na estante de Angelopoulos com o primoroso
Paisagem na Neblina,
mas Cannes só concedeu um canhestro Grand Prix, o prêmio
do júri, para Um Olhar a Cada Dia há três anos.
Com longos planos e reflexões sobre
a infância, a passagem do tempo e a fronteira, características
das obras de Angelopoulos, A Eternidade e Um Dia percorre as memórias
do escritor Alexandre (Bruno Ganz, de Asas do Desejo).
Velho e doente, ele sente a proximidade da morte ao ao abandonar a casa
onde morou toda sua vida. A leitura de uma carta deixada pela esposa (Isabelle
Renauld), já falecida, evoca os anos perdidos com a criação
literária, iniciando uma viagem onde passado e presente se confundem.
Alexandre passa a dirigir através das ruas da cidade de Thessalonika,
onde encontra um jovem refugiado albanês
que vive da limpeza de carros. A criança funciona como um catalizador
das vivências e desejos do escritor, como o filho que ele não
teve, o poema não-acabado, a infância que ressurge
somente na memória esmaecida de um encontro de família.
Angelopoulos chegou a sondar Marcelo Mastroianni
para o papel de Alexandre, um pouco antes de sua morte, em 1997.
Encontrou o velho ator destruído pela doença. Após
uma rápida conversa, em que Mastroianni se certificou de que o
filme não era melancólico, Angelopoulos o levou até
um táxi, onde Mastroianni se despediu com um aceno. Chovia muito,
como em todos os seus filmes. (Cássia
Borsero)
|