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Babenco revive passado
em Coração Iluminado
Babenco encara a morte e a dor |
Em
1984, Hector Babenco estava prestes a começar as filmagens de um
de seus maiores sucessos comerciais, O Beijo da Mulher Aranha.
Envolvido com o projeto até a medula, ignorou
a morte e o enterro do pai por projetos profissionais. A mágoa
e a catarse dessa lembrança estão em Coração
Iluminado.
Depois de sobreviver
a um câncer linfático que quase o matou e o forçou
a um transplante de medula, Babenco inspirou-se
em sua juventude na Argetina para compor, juntamente com o escritor Ricardo
Piglia, a moldura esmaecida daqueles anos perdidos.
Juan Ludz (o argentino Walter Quiroz) é um jovem da Mar del Plata
na década de 60. Vive um romance intenso e tumultuado com Ana (Maria
Luiza Mendonça), uma mulher neurótica e passional. A primeira
parte do filme se concentra nesse núcleo, onde
aparece a relação conflituosa com o pai, a vocação
artística que o faria deixar seu país para estudar cinema
e o pacto suicida que Juan trava com Ana.
Vinte anos depois, Juan (agora vivido por Miguel
Angel Solás) é um bem-sucedido diretor de cinema e retorna
a Mar del Plata para visitar o pai doente. Tem um encontro marcado com
pesadelos, memórias e com a lembrança de Ana,
que julgava morta. Juan acaba enredado pela misteriosa Lilith (Xuxa Lopes,
esposa de Babenco), mulher madura que incorpora o amor adolescente que
Juan abandonara e que se recusa a encontrá-lo novamente.
Vaiado no Festival do
Cannes pelo público que sobrou e estava disposto a ver Godzilla
(!) no último dia, Babenco não se conforma: "É
como se vaiassem a minha própria vida". Os admiradores de
Babenco talvez tenham algo mais a dizer sobre um filme onde a origem autobiográfica
só reafirma a linha tênue entre cinema e vida, rara nas produções
atuais. (Cássia
Borsero )
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