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"Tempo da Inocência" retrata universo de família escocesa pelos olhos de uma criança
Embora irregular, a carreira do inglês Hugh Hudson inclui bons filmes como Carruagens de Fogo, que ganhou o Oscar da categoria, e Greystoke, a Lenda de Tarzan. É mais um "garoto selvagem" (na tradição de François Truffaut e Werner Herzog) do que uma aventura convencional do herói criado pelo escritor Edgar Rice Burroughs. Serve para uma bela reflexão sobre o embate entre instinto e cultura repressora. A esses títulos é preciso acrescentar agora Tempo da Inocência.
Se você viu (e gostou de) Minha Vida de Cachorro e As Regras da Vida, do sueco Lasse Hallstrom, vai amar. Há parentescos entre todos esses filmes (de climas, mais que de histórias), não sendo por acaso que "Regras" e "Tempo" são produções da Miramax.
É a história de uma família escocesa no começo do século. Uma família excêntrica, vista pelos olhos de uma criança. O pai inventor, a mãe uma cantora de ópera que desistiu da carreira para se dedicar à família. E mais todo o universo familiar ao redor - a avó que mantém o equilíbrio do clã, o tio ranzinza, sua bela mulher francesa que desperta o desejo do pai. Tudo leve e, ao mesmo tempo, profundo, banhado numa melancolia (as mortes, as desavenças entre o pai e a mãe) que não inibe a alegria que permeia o relato.
Uma seqüência, pelo menos, é prodigiosa e vale o filme. É a mais bela da carreira de Hudson. Seria injusto não reconhecer sua qualidade, mesmo para quem não aprecia particularmente o trabalho do diretor. É quando o pai procura o filho para que a família, unida, vá à igreja. Encontra-o sentado na sala, com um copo de uísque numa mão e um charuto na outra. Com essa última, o menino de 10 anos acompanha o ritmo da música de jazz no gramofone. Colin Firth, que faz o pai, vê-se nesse momento projetado no filho. Antecipa o rito de passagem, sente o que a cria herdou dele e de que forma dará um passo adiante. Recua e sai de cena. É lindo - tão lindo que Hudson não tem vergonha de dedicar o filme à memória do ator Ian Charleson, de Carruagens de Fogo.(Agência Estado)
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