|
Judy Berlin: Um dia de eclipse
É inegável a presença de Woody Allen em Judy Berlin. Alguns personagens trazem a mesma intimidade e amargura existencial que sentimos ao ver um filme do diretor. Mas, apesar das semelhanças, Judy Berlin consegue ser diferente, mostrando-se como uma obra completamente autoral, estranha como um eclipse. O filme é um grande encontro de personagens interessantes e sedutores. A trama acontece em apenas um dia.
David Gold (Aaron Harnick) é um diretor de cinema frustrado. Descontente com seu fracasso na Califórnia ele retorna para a casa dos pais em Babylon, Nova Yorque.
Sua mãe parece estar na lua, fora de uma realidade terrestre. Enquanto se preocupa com os traços aparentes da idade, sente a melancolia e angústia dos anos.
É no dia de um eclipse solar que David reencontra a antiga colega de escola Judy Berlin, uma desajeitada atriz de comerciais que pretende partir naquela mesma noite para tentar a sorte em Hollywood.
Enquanto lembram do passado, a cidade passa pela transição sombria do dia. O que poderia ser um clichê pedande, transforma-se em uma grande metáfora nas mãos do diretor Eric Mendelsohn.
Em preto e branco, a cidade é tomada pelas sombras. O som dos pássaros evoca sensações. Passado e presente somem durante a escuridão gerada pelo eclipse do Sol.
Como num vácuo, os personagens revelam sentimentos abafados e atos que durante tanto tempo estavam contidos.
Enquanto os jovens vagam pela estranha atração da cidade - uma vila que reconstitui a vida rural do lugar há mais de 100 anos,encenada por atores amadores -, seus pais vivem um pequeno romance.
O diretor de uma escola, pai do protagonista, resolve encarar a atração que sente pela mãe de Judy, uma professora primária, que não aceita a filha, pouco parecida ao seu tipo rígido e amargurado.
Enquanto todos param em seu tempo, com suas vidas fracassadas, estáticas e infelizes, Judy parece ser a única que ainda quer encarar o mundo, mesmo que este lhe esteja na escuridão.
O mistério de semelhança a Woody Allen deve-se ao fato do diretor ter sido assistente de figurino em vários filmes de Allen. Mendelsohn recebeu o prêmio de melhor diretor no festival de Sundance em 99 por este, que é seu primeiro longa-metragem. (Luciana Rocha)
|