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Kadosh - Laços Sagrados estréia no Rio, nesta sexta. O diretor Amos Gitai escolheu Jerusalém como cenário dessa vez, completando a trilogia que começou com Devarim (1995) filmado em Tel Aviv, e depois originou Yom Yom (1998), filmado em Haifa, todas elas cidades de Israel. E não é mero acaso: Gitai procura compreender as mudanças no seu país através do cinema. E Kadosh é a própria contradição de um país em transição. Num bairro extremamente ortodoxo de Jerusalém duas irmãs reagem diferentemente aos preconceitos religiosos defendidos pelos homens. Rivka (Yael Abecassis) é forçada pelo rabino a abandonar o marido por que eles não podem ter filhos. Malka (Meital Barda), sua irmã, está apaixonada por um rapaz que foi escolhido para viver fora da comunidade, além de estar prometida a Yossef (Uri Ran Klauzner), um fanático religioso. Enquanto Rivka mergulha numa vida de silêncio e solidão, Malka se rebela. Há 25 anos um filme israelense não era selecionado para Cannes, como foi o caso de Kadosh. O filme traz ainda na bagagem indicações para o festival de Toronto e Montreal, e uma ótima recepção da crítica americana e européia. Kadosh é um deslocamento de olhar do diretor, que revela ter se tornado um estrangeiro observador para realizar seu filme. E com esse distanciamento, ele pode destrinchar, por meio de uma câmera intimista, os costumes de um povo onde a religião rege todas as relações. Quando Gitai decidiu filmar Jerusalém, pareceu-lhe óbvio que o tema central deveria ser a religião (Kadosh significa “sagrado”). Mas ele vai muito além por mostrar, por exemplo, os conflitos de Rivka, que culpa-se por não poder ter filhos: "Uma mulher sem filhos é melhor estar morta", escreve certa vez num bilhete. E nem se discute a hipótese da esterilidade masculina. A marginalização da mulher é tratada de forma clara e ao mesmo tempo, muito sensível. Gitai procura a contradição. E encontra-a na relação de um Estado que precisa se afirmar política e religiosamente e ao mesmo tempo convive com a modernização dos costumes. Encontra-a também na relação amorosa entre Rivka e seu marido, Meir - ele a ama, mas precisa amar mais ainda a seu Deus, que o "obriga" a separa-se dela. Mais contundente é o conflito de cada um dos personagens consigo mesmo, entre seus interesses e os interesses comuns, geralmente traduzidos pela religião e pelo respeito à tradição. Esta é a primeira experiência do diretor em uma produção totalmente ficcional. Para escrever o roteiro, ele contou com a ajuda de Eliette Abecassis, judia praticante. Gitai vem de uma tradição em documentário e seu cinema reflete sua própria história - na guerra de Yom Kippur (ataque árabe a Israel em 73) gravou todo o conflito em sua câmera super-8. Destas cenas resultou o seu filme Kippur (1997). Em Kadosh, ele continua mostrando situações bem reais, convidando o espectador a conhecer a intimidade de uma cultura alheia ao resto do mundo e, ao mesmo tempo, fazendo com que ele reflita sobre suas próprias convicções.(Agência Estado)
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Título
Original: Kadosh |
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