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Kevin Spacey é o destaque em "A Chave do Sucesso"
Kevin Spacey ganhou o Oscar de melhor ator deste ano por sua criação como o pai da destrambelhada família de Beleza Americana. Ele não era realmente o melhor, pois a atuação de Russell Crowe em O Informante é superior. Basta ver o vídeo para perceber isso. Mas Spacey é do ramo, claro. Um verdadeiro ator. Confirma-o em A Chave do Sucesso, filme de John Swanbeck que baseia-se na peça "Hospitality Suite", de Roger Rueff, adaptada pelo autor. Spacey empenhou-se tanto que é também produtor.
Cinema e teatro
As relações são sempre complicadas. Um grande do cinema, que também era um grande do teatro, Luchino Visconti, dizia que seus filmes tinham sempre um arcabouço teatral, mas suas montagens também eram cinematográficas. Desta maneira, queria dizer que as duas formas de expressão não eram excludentes, mas podiam enriquecer-se mutuamente.
O problema, na maioria das vezes, é que os adaptadores quase nunca têm coragem de construir os filmes só na dinâmica da palavra (e dos embates físicos). Tentam sempre tirar a peça das quatro paredes e, para isso, criam as inevitáveis cenas externas. A Chave do Sucesso não deixa de ter essa cena em que a ação sai da suíte para ganhar a rua. Bob (Peter Facinelli) passeia na noite e a câmera o acompanha. Nada substancial para o desenvolvimento da trama ou o enriquecimento do personagem, mas a cena está lá.
São três homens em conflito no interior de uma suíte - três vendedores que tentam, durante uma convenção em Wichita, no Kansas, fazer uma grande transação de alumínio com o presidente de uma empresa, o qual não conhecem. Spacey é Larry, amigo de longa data de Phil (Danny DeVito). Dois vendedores típicos, daqueles que se diz que venderiam a própria mãe. Larry é o mais cínico de todos, com sua sinceridade rude. Tenta dar apoio a Phil, que está em crise. Entra em rota de colisão com Bob. Esse é crente e contesta Larry pelo que considera sua ausência de valores. Larry rebate dizendo que Bob também é um vendedor - que tenta vender a ilusão de Deus. Quebram o pau.
A Chave do Sucesso não deixa de ter certas semelhanças com O Preço do Sucesso, que James Foley adaptou da peça de David Mamet, com a diferença de que o texto de Rueff acrescenta o tema da religião ao conflito ético do vendedor. Joseph L. Mankiewicz, o chamado cineasta da palavra, construía sua mise-en-scne sobre o dinamismo dos diálogos. Fazia cinema até quando adaptava peças de teatro (De Repente no Último Verão, de Tennessee Williams). A Chave do Sucesso tem atores afiados, mas não escapa à categoria que, pejorativamente, costuma ser chamada de "teatro filmado".(Agência Estado)
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