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"Adeus, Lar Doce Lar" rejeita a burguesia parisiense
A Paris dos dias de hoje revela contrastes e paradoxos excepcionais dentro de seu universo social. Embora acostumados a enxergar estas diferenças em terras brasileiras, não costuma-se encarar realidades parecidas vindas de grandes países da Europa.
Em Adeus, Lar Doce Lar, Otar Iosseliani esmiuça bem esta divisão ocultada pela cultura iluminada e pelo charme das antigas construções. Nicolas, um jovem de 20 anos, é um dos que vivenciam estas duas realidades confrontantes. Filho de uma tradicional e excêntrica família, vive isolado em sua mansão num bairro distante. Cercado por empregados, convive acomodado em seu mundo.
Seu conhecimento versa sobre várias áreas, entre elas física, música e artes. Mas, seu estilo de vida nobre e pouco aventureiro leva-o a arriscar-se pela cidade, onde encara trabalhos fáceis como lavador de pratos e vitrines, e encontra amigos que vivem sem teto, mas em total liberdade de valores e costumes.
A vida nas ruas não é fácil, mas contém um certo charme. Com amigos bem diferentes dos conhecidos na escola, embarca em uma aventura arriscada, indo parar na prisão.
Ao ser libertado, ganha um carro de presente da mãe. Sai junto com o antigo colega, mas rejeita sua companhia, demonstrando o quanto são diferentes. Volta às ruas para encontrar alguns de seus amigos e mostrar seu novo presente, mas as coisas mudaram, e a única solução é voltar para casa, e assumir seu papel na família.
Com linguagem sutil e poucos diálogos, Iosseliani leva o espectador às diferentes situações passadas pelas ruas e estabelecimentos de Paris. Mesclando os caminhos de vários personagens, traça um roteiro inteligente e pouco convencional, criando certas semelhanças com acontecimentos inusitados já vivenciados em filmes do mestre surrealista Luis Buñuel.
Otar Iosseliani nasceu em Tblisi, capital da Geórgia, em 1934. Dirigiu seu primeiro curta em 1958, Akvarel e formou-se em direção em 1961. Nessa época o seu média-metragem Aprel foi proibido pela censura, o que o obrigou a trabalhar como marinheiro e operário de fundição. Mesmo assim conseguiu realizar em 1966 se primeiro longa, A Queda das Folhas, Prêmio da Crítica no Festival de Cannes/68. Foi ganhador do Prêmio da Crítica, desta vez em Berlim, por Pastoral (1967), mas continuou a ter problemas com a censura em seu país. No começo dos anos 80, exilou-se na França, onde realizou Os Favoritos da Lua e Bandoleiros.
(Agência Estado)
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