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"Náufrago"
pode render terceiro Oscar para Tom Hanks
Se você é
daquelas pessoas que detestam Tom Hanks, passe longe de qualquer cinema que esteja
exibindo Náufrago. O drama, que entra em cartaz nesta quinta-feira, não
existiria sem o ator norte-americano.
Hanks aparece completamente sozinho em mais da metade das cenas. Sua dedicação
ao que ele considera o "papel de sua vida" o obrigou a fazer acrobacias
dignas de um Robert De Niro. Ele precisou, por exemplo, emagrecer 30 quilos durante
as filmagens para mostrar o que quatro anos isolado numa ilha deserta fariam à
silhueta de um ser humano. Também teve que suportar uma grave infecção na perna,
que o forçou a passar três dias internado num hospital e suspendeu as gravações
durante várias semanas.
Todo
esse sacrifício parece ter valido a pena. Tom Hanks está excepcional no papel
de Chuck Noland, um engenheiro de sistemas da FedEx que, depois de sofrer um acidente
de avião, vai parar numa ilha desabitada nos cafundós do oceano Pacífico.
Ali, afastado de tudo e de todos, ele precisa aprender a sobreviver. É obrigado
a usar a imaginação para abrir um coco sem usar qualquer instrumento. Tem que
se esforçar para fazer fogo com a ajuda de dois gravetos. Mas o mais difícil é
lidar com a solidão.
Ao contrário de outras histórias sobre o mesmo tema, como a de Robinson Crusoé
ou a do filme A Lagoa Azul, não há em Náufrago um nativo com quem
Noland possa dividir suas preocupações e muito menos um par romântico para apimentar
a trama. Noland está completamente sozinho na ilha. Por isso é tão comovente a
cena em que ele resolve transformar uma bola de vôlei, que veio encalhar na praia
dentro de um pacote da FedEx, num amigo imaginário.
Noland
desenha um rosto na bola com seu próprio sangue e, aproveitando o nome do fabricante
do objeto esportivo, ele batiza seu novo amigo de Wilson. Agora Noland tem com
quem conversar. E a platéia, como saber o que lhe passa na cabeça.
Antes de Wilson aparecer, Tom Hanks precisava transmitir todo o desespero de seu
personagem através de expressões faciais. Sem auxílio de um fundo musical -- inexistente
durante o tempo que o personagem está na ilha -- e sem outro ator com quem dividir
as falas, Tom Hanks teve que dar tudo de si para não entediar a platéia.
"Isso me deixava louco", disse o ator numa entrevista a uma revista
americana. "Não havia duas pessoas para sustentar a história, não havia ninguém
com quem contracenar. Era como fazer um filme mudo."
Apesar das dificuldades, o ator se saiu bem. Tanto que está cotadíssimo para o
Oscar -- o terceiro de sua carreira -- por seu trabalho, que já lhe rendeu o Globo
de Ouro de melhor ator em filme de drama.
Tom Hanks já teve várias chances de mostrar seu talento nas telas. Seja como um
homossexual com Aids em Filadélfia ou como um simplório em Forrest Gump
-- O Contador de Histórias, ou mesmo em filmes mais leves, como Mensagem
para Você e Sintonia de Amor, o ator sempre roubou a cena. Não é diferente
em Náufrago.
Apesar de o filme contar com bons atores (Helen Hunt está ótima no papel da namorada
de Chuck Noland), com um bom roteiro (William Broyles Jr., de Apollo 13,
passou várias semanas numa praia isolada aprendendo técnicas de sobrevivência
que usaria em sua história) e com uma direção competente (Robert Zemeckis, de
De Volta para o Futuro), Náufrago é Tom Hanks do início ao fim.
Reuters
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