Trama inconsistente prejudica "Oriundi"
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Não dá para negar que o argumento - aquele fiapo de idéias em torno do qual se organiza a história - é engenhoso. Oriundi, dirigido por Ricardo Bravo e estrelado por Anthony Quinn, centra seu foco na figura de Giuseppe Padovani, patriarca de uma família de imigrantes que deixou um grande amor no passado, Caterina (Letícia Spiller, em dois tempos distintos da trama). Padovani perdeu a mulher ainda jovem e agora, velho, assiste à sua reaparição, reencarnada numa 
jovem parenta, Sofia D'Angelo, que pesquisa a vida da família. Ou seja, 
tudo se arranja em torno de motivos como nostalgia, amor e dissolução. É, também, uma saga familiar, com tudo o que esse subgênero comporta de empatia com o público. E isso por um motivo muito simples. Todo mundo tem em sua história familiar (seu "romance familiar", dizia Freud) uma versão mais ou menos idealizada de suas origens e raízes.
Claro, antes de mais nada, Oriundi é um trunfo de produção, porque conseguiu trazer para o projeto um ator mitológico, Anthony Quinn, veterano de batalhas cinematográficas do porte de A Estrada da Vida e Zorba, o Grego. Quinn é um velho senhor, cheio de carisma e truques. Vê-lo interpretar é um prazer em si, mesmo que seja num papel mal desenhado, recitando um texto humilde. O prazer aumenta quando lhe é dado 
contracenar com um profissional à sua altura, como é o caso de Paulo Autran, que representa o médico e amigo de Padovani. São dois violinos, ou melhor, dois celos afinados, que se completam e sabem deixar espaço um para o outro. Essas cenas são momentos de magia de Oriundi. Raros, infelizmente. Porque em torno da fascinante presença de Quinn e seu personagem se organiza uma trama inconsistente. Paulo Betti faz Renato, presidente da empresa dos Padovani, a fábrica de macarrão fundada pelo velho Giuseppe e sua Caterina. Não parece levar jeito para a coisa, é um estróina mais preocupado em gozar a vida do que cuidar do patrimônio.
Renato tem um filho, Stephano (Tiago Leal), que se formou no exterior e chega cheio de novos planos para a fábrica. Deseja associar-se a um grupo italiano, o que é visto, pelo pai, como perda de autonomia, no plano dos negócios, e derrota, no plano simbólico. A tudo isso, Giuseppe assiste, indiferente na aparência. O que há de comovente no filme é exatamente isso: mostrar o velho lutador em sua introspecção, naquele alheamento de quem assiste a tudo ruir em sua volta. E que assiste à ruína da própria vida.
Giuseppe é pura lembrança, por isso evoca a mulher amada que o tempo levou. Por isso, também, ela retorna, ainda que de forma alucinatória. Uma 
compensação, um pobre consolo para o naufrágio da velhice. Giuseppe só tem de si o espaço da recordação - esse insuportável mau cheiro da memória, como diz Drummond em um dos seus poemas. Mas é pena que esse quadro desolador, que poderia ser mais bem trabalhado no registro do trágico, apareça de forma tão superficial em Oriundi.
É como se Quinn lutasse o tempo todo contra um roteiro fraco. O fato de as tramas secundárias - a disputa pela fábrica de macarrão, os conflitos entre parentes etc. - não funcionarem em nada contribuem para o desenvolvimento do tema principal. Enfim, tudo contribui para que o filme não tenha clima, essa substância meio impalpável da qual são feitas as 
grandes obras. Chega a ser impressionante como, com todos os ingredientes favoráveis, e com todo esse elenco, Oriundi não consiga em praticamente momento nenhum tocar a corda da emoção do espectador. É um daqueles casos exemplares em que o todo é menor do que a soma de suas partes. (Luiz Zanin Oricchio/Agência Estado)
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