A derradeira
ficção de Mastroianni
No dia 12 de
dezembro de 1998, o cineasta português Manoel de Oliveira completou 90
anos. Um caso raro de longevidade cinematográfica,
Oliveira é o diretor de Viagem ao Princípio do Mundo.
Mastroianni, o
alter-ego do cineasta português |
Mesmo não sendo Portugal
um grande produtor de filmes, Oliveira, desde 1990, vem conseguindo o
prodígio de rodar um filme por ano, jamais abrindo mão da rigorosa
sintaxe cinematográfica que marca toda a sua carreira, que
começou em 1942 com Aniki-Bobó.
A principal curiosidade
que se criou em torno de Viagem ao Princípio do Mundo deve-se ao
fato de ter sido esse o último filme de ficção
interpretado pelo ator italiano Marcello Mastroianni (1923
- 1995).
Mastroianni interpreta
o papel de um diretor de cinema que acompanha um ator francês em visita
a uma tia em Portugal.
Oliveira cria uma
série de situações tristemente cômicas sobre as diferenças culturais
entre França e Portugal, países que produzem seu filme.
Da mesma forma que
o diretor percorre cenários de sua infância e juventude, ele revela
um pouco de suas idéias sobre o cinema que faz e questiona
sua importância.
Mastroianni, como o
alter ego do cineasta, defende seu personagem com bravura. Um humor seco
perpassa a narrativa, em que mais uma vez Oliveira
exige de seus atores um estilo de interpretação pouco naturalista,
apesar da trivialidade dos diálogos.
Esse efeito reforça
a intenção de realizar, com o filme, um ritual de passagem da vida para
a morte. Suposto testamento cinematográfico de
Oliveira, o filme não é o último da carreira de Oliveira, já
que ele apresentou fora do concurso no Festival de Cannes seu novo filme,
Inquietude. (Agência RBS)
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