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"Regras do Jogo" dá novo fôlego ao diretor William Friedklin
Depois do Oscar de direção, que recebeu por Operação França, William Friedkin só conheceu o gosto do sucesso com O Exorcista, o primeiro da série. O filme podia não ser bom, mas foi fundamental na escalada do gore que terminou levando ao terror de Jason, Freddy Krueger e Michael Myers. Depois, Friedkin não conseguiu acertar uma. Os filmes ruins foram sucedendo-se monotonamente. Nem o thriller erótico Jade, nas águas de Instinto Selvagem, conseguiu surpreender. Friedkin, que parecia liquidado, ainda tem bala para disparar.
Regras do Jogo pode e deve ser discutido pela dimensão política e ideológica que assume, mas como espetáculo de cinema está um degrau acima de tudo o que o diretor tem feito nos últimos 20 anos. Beneficia-se da presença de atores sólidos - Tommy Lee Jones e Samuel L. Jackson, não podendo deixar de ser citado também o australiano Guy Pearce (de Los Angeles, Cidade Proibida).
É um drama de julgamento, situado na vertente do filme de guerra - um filme de corte marcial . Jackson é o militar acusado de promover um grave incidente internacional. Oficial considerado exemplar, é designado para uma missão de resgate no Oriente Médio. Deve retirar o embaixador e sua família da embaixada americana situada por manifestantes hostis - e árabes, claro. Jackson dispara as armas do grupo sob seu comando e o resultado é um banho de sangue que revolta o mundo. Ele é levado à corte marcial. Chama, para defendê-lo, o militar a quem salvou a vida no Vietnã (Tommy Lee Jones).
O julgamento é uma farsa. Jackson já foi condenado pelo alto comando e o secretário da Defesa fez desaparecer as provas que poderiam absolvê-lo - as imagens, gravadas pelas câmeras da embaixada, mostrando que os habitantes não eram pacíficos e portavam armas. Acusação e defesa digladiam-se no palco do tribunal. Jackson incrimina-se, Jones e ele brigam a socos - como em qualquer filme americano de ação em que os machos precisam exercitar os músculos para selar a camaradagem.
No fim, um letreiro diz que a história é real e informa o que ocorreu com cada um dos envolvidos. Se é mesmo real, a trama verdadeira foi romanceada e virou ficção, pois é assim que age Hollywood. Não uma ficção inócua, mas mais um filme que se nutre da paranóia americana, no caso, o ódio que os EUA votam ao Grande Satã representado pelo povo árabe. Ideologicamente, Friedkin é ambíguo, quando não tendencioso. É pena, porque há uma discussão sobre honra e disciplina militares, sobre os bastidores da política invadindo a caserna que seria interessante se o inimigo fosse, por exemplo, o nazismo. Mas não é, e isso faz toda a diferença.
Só para constar - embora Friedkin deva sua glória à eletrizante corrida de carros de "Operação França", o policial com Gene Hackman, disponível em vídeo, não é seu melhor filme. Esse título ainda pertence a "Quando o Strip-Tease Começou", uma comédia burlesca com o espírito irreverente (e contracultural) de 1969. Mas há informações de que aquele filme foi salvo na sala de montagem, a despeito de Friedkin. Ainda não foi desta vez que ele teve sua nova chance.(Agência Estado)
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