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Spike Lee enfrenta verão e psicopata
Tem gente que acha que seu assunto é sempre o mesmo, nunca muda. Outros, dizem que ele não pode falar sobre uma cultura à qual não pertence, que ele não tem o direito de fazer um filme sobre brancos.
Normalmente, é esse o tipo de reação que costuma perseguir os poucos diretores que ficaram "maiores" que seus filmes. Acontece com Woody Allen. Acontece com David Lynch. Com o norte-americano Spike Lee, que dirigiu MalcomX e Faça a Coisa Certa, a pressão é ainda mais forte. Mas a cobrança é puro reflexo de seu trabalho que sempre foi centrado no caráter marginal de seus personagens, quase sempre a comunidade afro-americana. Seus rótulos estão tão bem grudados que são quase impossíveis de se arrancar.
Mas, em seu mais novo longa, testemunhamos o tímido início de sua "conversão" cinematográfica. Lee continua retratando o underground americano, mas, dessa vez, ele deixa as questões ideológicas e sociais de lado e conta uma história. Uma das milhares de histórias de Nova York.
O Verão de Sam se passa em 1977, durante um dos verões mais quentes de Nova York, quando uma série de assassinatos começou a assolar o bairro do Bronx, no subúrbio de Nova York. Usando a tensão criada por esse fato verídico e capturando todo o clima da época - o surgimento do punk-rock, a revolução sexual, o grande blecaute de Nova York, o groove e o balanço da disco – Spike Lee mostra as mudanças que vão acontecendo na vida da comunidade local.
Um Bronx unido, contraditório e repleto de personagens ricos e interessantes funciona como cenário para os crimes cometidos pelo psicopata, que tem o costume de matar casais namorando em estacionamentos. Com isso, restaurantes, bares e lojas fecham suas portas, decretando um toque de recolher involuntário. E, já que a polícia, nesta época, era pouco eficaz, o bairro, assustado e com medo, não tem outra saída a não ser agir.
É isso o que faz o cabelereiro Vinny (Jonh Leguizano), um típico ítalo-americano que passa as noites dançando em discos e os dias traindo sua mulher (Mira Sorvino). Ele se junta à seus vizinho que saem numa caçada para tentar descobrir quem é o responsável pelos crimes.
A comoção em torno dos acontecimentos e o afinco da comunidade em desvendar a identidade do assassino é única.
O mérito do filme também está na exposição das contradições da pequena comunidade, onde os jovens liberais do Bronx conflitam com os valores tradicionais da vizinhança. Mas os personagens de Spike Lee, mais uma vez extremamente caracterizados, continuam sendo o ponto forte de seus filme.
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