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O Holocausto do ponto de vista dos sobreviventes
John Turturro é Primo Levi na filmagem de seu diário de sobrevivente, dirigida pelo napolitano Francesco Rosi, de O Caso Mattei e Crônica de uma morte anunciada. O caos, o horror e a inexplicável miséria humana são os elementos retratados no relato verídico de Levi sobre sua libertação de Auschwitz por soldados russos, já no final da guerra, em 1945. As imagens horrorosas estão todas lá, do infortúnio, da humilhação, da tortura e do genocídio, seja nas lembranças dos sobreviventes, seja em seus semblantes marcados. Mas a tônica aqui é a volta para casa, um longo caminho de incertezas, da Rússia até a Itália, por caminhos tortuosos e desconhecidos, cortados pela confusão, a burocracia, a fome e o caos do fim da guerra numa Europa dilacerada. No meio tempo, personagens bucólicos como os próprios soldados russos, os bufos italianos indiciplinados e particularmente um grego cara-de-pau, o único a fazer rir o ateu Primo Levi, formam a gama de seres humanos que trazem de volta a alegria de viver dos sobreviventes. Em um momento magistral do filme, na comemoração do fim da guerra num acampamento de soldados russos, a dança e a música trazem cor aos maltratados ex-prisioneiros. Outro momento tocante é o encontro dos ex-prisioneiros com soldados alemães vencidos e esfomeados que se ajoelham em súplica por pão, em solo russo, palco da derrota alemã. A guerra não tem explicação, hoje inimigos, amanhã vizinhos. Francesco Rosi teve a ajuda do próprio Primo Levi ao realizar seu filme. E o relato de Levi foi acrescido de vida e imagens poéticas que reforçam seu relato histórico. A Trégua deve ser visto, seja pela interpretação impecável de John Turturro, já ganhador do prêmio de Cannes por sua atuação em Barton Fink, dos irmãos Coen, seja pela narrativa incomparável de Francesco Rosi, também premiado em Cannes como diretor, há 26 anos, por O Caso Mattei. (Beth Ferreira)
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Título
Original: La Tregua |
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