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A magia de Curtis Hanson e seus "Garotos Incríveis"
Cinema é magia, mas ela independe de efeitos especiais, como prova o filme Garotos Incríveis, de Curtis Hanson, que estréia no Brasil. É bom, senão ótimo. Na cena mágica, o personagem de Michael Douglas abre um armário trancafiado como cofre e coloca o jovem Tobey Maguire diante do mistério. Ali está, pendurada, uma jaqueta com gola de pele. Acima, uma foto. É a da lendária Marilyn Monroe no dia do seu casamento com Joe DiMaggio. Usa uma jaqueta similar, talvez a mesma.
"Éééé?", pergunta o personagem de Tobey. "Sim", diz Douglas, ao que o outro acrescenta. "Como ela era pequenininha." Tinha os ombros estreitos, ninguém sabe disso. Maguire avança com a mão para tocar a relíquia, pois é uma relíquia. Fica com a mão parada no ar. É um momento breve, mas muito bonito, num filme que comporta observações preciosas sobre um certo meio intelectual americano.
Douglas faz o escritor de um só sucesso. Seu primeiro livro foi saudado como um acontecimento. Passaram-se sete anos e ele não consegue concluir o segundo. Esse homem em crise relaciona-se com um jovem e talentoso aspirante a escritor, com um editor meio histérico e uma amante, casada com outro homem, que lhe revela estar grávida.
Hanson, que redimensionou sua carreira com o sucesso de Los Angeles, Cidade Proibida, entende perfeitamente esse personagem confrontado com o próprio fracasso. Douglas passa o filme todo fumando maconha, há sugestões (e mais até do que sugestões) de homossexualismo, mas o diretor, com certeza, não quer chocar.
Ele quis fazer um filme humano, com gente de verdade. Conta a história da difícil jornada de um eterno adolescente no rumo da maturidade. O filme tem diálogos inteligentes, situações divertidas. Outro momento especial é quando as folhas de um livro inédito espalham-se ao vento (como em Celebridades, mas diferente). Douglas está tão bem que poderá ser indicado para o Oscar.(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)
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