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O BEBÊ DE ROSEMARY de Roman Polanski "O bebê de Rosemary" é normalmente classificado como um filme de terror. Nada mais equivocado. Os fãs de terror tendem a ficar decepcionados, pois não há qualquer imagem particularmente aterrorizante no filme. E, bem pior, o rótulo serve para espantar quem desgosta do gênero. Polanski é um mestre da ambigüidade, e não da clareza; da ironia, e não do riso; da intertextualidade, e não das fórmulas clássicas. Polanski é um homem atormentado, com uma vida difícil, cheia de lances dramáticos, mas que, ao transpor suas angústias para o cinema, consegue a façanha de torná-las universais, atemporais e (quase sempre) bem-humoradas. A vinda do anti-Cristo é, à primeira vista, o tema principal de "O bebê de Rosemary". Alguns chegam a dizer que o filme abriu caminho para os sucessos populares de "O Exorcista" e "A profecia" na década de 70. Mais equívocos. Polanski não está interessado, nem em discutir seriamente o satanismo, nem em espantar o público com exibições circenses de vômitos e levitações. Polanski está interessado em usar o medo do desconhecido como mola propulsora de uma análise devastadora da família norte-americana, de seus sonhos pequeno-burgueses, de suas aspirações tão conhecidas, domesticadas e inofensivas. Em "A dança dos vampiros" o vampiros são tratados com total descrédito – um é gay, outro não acredita em Deus, nem tem medo da cruz. Em "O bebê de Rosemary" o diabo vai nascer da barriga de Mia Farrow! Querem coisa mais inverossímil? O que torna "O bebê
de Rosemary" um clássico? Um poderoso conjunto de fatores, em que é possível
destacar: Polanski ainda nos oferece um dos melhores finais de filmes da história. Quando Rosemary finalmente vê seu bebê no berço negro e confirma todas as suas suspeitas, tem a chance de escolher entre dois caminhos: ou renega seu filho, partindo para o confronto com os feiticeiros, numa atitude católica e moralmente defensável; ou deixa seu instinto maternal falar mais alto, seguindo um caminho de sombras e pecados. Mia Farrow sorri, terna, para o bebê, a câmara abandona o apartamento e Polanski mostra como se termina um filme mantendo a espinha ereta e o coração tranqüilo. Alguns críticos dizem que ele cansou. Eu ainda tenho esperança. Longa vida para Roman Polanski. Ficha técnica:
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Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".
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