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OS DESAJUSTADOS (The Misfits) de John Huston John Huston, em 1960, quando rodou "Os desajustados", já havia realizado "Relíquia macabra", "O tesouro de Sierra Madre", "Uma aventura na África" e "Moby Dick", todos clássicos, todos filmes de boa bilheteria. Ela tinha, portanto, cacife suficiente para reunir um elenco estrelar para uma história que parecia ser um verdadeiro veneno de bilheteria: mulher urbana, ingênua e desiludida conhece caubóis rudes e mais desiludidos ainda. Huston sabia que, comercialmente falando, tratava-se de uma aposta perdida desde o início. Mas ele adorava blefar.
A grande cena final, em que os três caubóis vão laçar "mustangs" (cavalos selvagens) no deserto é de arrepiar. Huston descreve cada etapa da aventura: primeiro o avião localiza os cavalos e os remete na direção dos caçadores; depois, usando um caminhão, os cavalos são perseguidos, laçados e amarrados a um pneu (procedimento que lembra a pesca de baleias em "Moby Dick"); finalmente, os cavalos, já extenuados, devem ser derrubados e amarrados. Tudo isso para quê? Num western tradicional, provavelmente seriam adestrados para virar montaria. Mas, em "Os desajustados", o objetivo é vendê-los para comerciantes da região, que vão matá-los imediatamente e transformá-los em comida para cães e gatos.
Além de ver "Os desajustados" em vídeo, é bom também dar uma olhada em "Magnum Cinema - histórias de cinema pelos fotógrafos da Magnum", editado no Brasil pela Nova Fronteira, com textos de Alain Bergala, que possui várias fotos das filmagens dos "Os desajustados" (a mais famosa delas, de Monroe no deserto, está na capa do livro). Eve Arnold, Bruce Davidson e Cartier-Bresson, entre outros fotógrafos talentosos, produziram um material fora do comum, que é um documento emocionante e amargo sobre o mundo do cinema. Fotos de homens e mulheres que fazem de suas vidas uma sucessão de mentiras bem contadas, apoiadas por imagens e sons que, quando manipuladas por um diretor como Huston, são fragmentos dolorosos da realidade mais real que um homem jamais viveu.
Carlos
Gerbase é
jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor.
Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A
gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente
finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.
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