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SERGEI M. EISENSTEIN(1898-1948)
Revolucionário,
professor, pensador do cinema, realizador, Sergei Mikhailovich Eisenstein
é um dos nomes fundamentais na consolidação da linguagem das imagens em
movimento. Com 26 anos fez “A greve”, mostrando que arte e política podiam
andar juntas. Com 27, deu ao mundo “O Encouraçado Potemkin”, tão (ou mais)
importante que “Cidadão Kane” na história do cinema. Filmado em apenas
2 meses e montado com extraordinário apuro técnico, o “Potemkin” tem cenas
cujo ritmo supera, com folga, qualquer clip pós-moderno da geração MTV.
Logo depois fez “Outubro”, menos narrativo, demonstrando sua “Teoria da
Montagem de Atrações”, até hoje modelo para filmes experimentais e trabalhos
de vídeo-arte.
Nestas três obras, apesar de financiado pelo estado, Eisenstein teve bastante
liberdade criativa. Seus problemas começaram com “A linha geral”. Stalin
julgou que a obra não estava de acordo com o “realismo soviético”, estética
que fora estabelecida pela Revolução como a mais adequada para educar
e conquistar as “massas”. Stalin chegou a mudar o nome do filme para “O
velho e o novo” e propor algumas alterações. Eisenstein não gostou.
Graças ao sucesso extraordinário do “Potemkin”, foi chamado pela MGM e,
junto com seus colaboradores Alexandrov e Tissé, embarcou para os Estados
Unidos. Só que deu tudo errado. Seus projetos não decolavam, apesar de
ter amigos poderosos como Chaplin e Flaherty. Eisenstein resolveu então
afastar-se de Hollywood e fazer “Que Viva México”, uma obra ambiciosa
sobre a história de um país e sua cultura. Infelizmente, as filmagens
foram interrompidas por problemas financeiros, e o material, mais tarde,
caiu em mãos gananciosas e pouco inspiradas.
Desolado, o cineasta só tinha uma saída: voltar para seu país e tentar
recolocar-se entre as engrenagens stalinistas. Contudo, os tempos eram
ainda mais duros. Nem a imprensa o perdoava por seu afastamento e pelo
seu curto idílio capitalista. Começou “O prado de Bezhin”, mas as filmagens
foram interrompidas por “instâncias superiores”. Quando sua carreira parecia
perdida, entretanto, recebeu a ordem de filmar “Alexandre Nevski”, como
uma peça de propaganda anti-germânica (Hitler crescia e ameaçava invadir
a União Soviética).
E, assim como já fizera no “Potemkin”, Eisenstein construiu uma obra-prima
que está acima da ideologia (ou melhor: alimenta-se da ideologia, mas
não está submetida aos seus dogmas). A cena da batalha no gelo é antológica
(no sentido estrito da palavra), tanto pela fotografia maravilhosa, quanto
pela habilidade narrativa.
Com o prestígio recuperado, Eisenstein começou “Ivã, o Terrível”, que
deveria três partes. Mas então começou a II Guerra, e tudo se complicou.
A primeira parte foi concluída, mas a segunda, que teria seqüências em
cores, novamente caiu no desagrado de Stálin, que queria um herói indômito,
vigoroso, monolítico, e não um ser humano de verdade, como Eisenstein
planejava construir. O cineasta morreu de ataque cardíaco em 1948,
em desgraça com o regime soviético, mas já consagrado no mundo todo.
FILMOGRAFIA
- “A greve” (1924)
- “O Encouraçado Potemkin” (1925)
- “Outubro” (1927)
- “A linha geral” (1929)
- “Que viva México” (1931) - inacabado
- “O prado de Bezhin” (1935) – inacabado
- “Alexandre Nevski” (1938)
- “Ivã, o Terrível” (1944/45) – em duas partes
Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista
e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A
gente ainda nem começou e Fausto)
e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado
"Tolerância".
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