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Curtas do Brasil fazem de Cannes seu trampolim

Três curtas-metragens brasileiros figuram na rigorosa seleção do Festival de Cannes, escolha obtida após extensa triagem nos principais eventos do mundo em cada categoria. O curta-metragem 3 Minutos, de Ana Luiza Azevedo, concorre inclusive à Palma de Ouro do formato, que será avaliado pela atriz Mira Sorvino, entre outros membros do júri. A repercussão internacional já garantiu maior visibilidade ao curta de Ana no Brasil, onde 3 Minutos poderá ser visto antes do longa-metragem Através da Janela, com estréia no dia 19.

"Quando assisti ao curta percebi que ele dialogava com o longa. A parceria é benéfica para os dois lados", diz a diretora Tata Amaral, que também abriu seu título anterior, Um Céu de Estrelas, com um curta-metragem, Móoca 1996. A idéia da associação partiu de Ana Luiza, que fechou acordo com a Riofilme, distribuidora de Através da Janela. "Antes de Cannes, 3 Minutos já havia conseguido uma passagem rápida pelo Cinesesc. Agora, estaremos em todos os cinemas onde o filme da Tata entrar", comemora a curta-metragista.

O circuito comercial brasileiro também promete absorver os dois outros curtas nacionais recrutados para o evento na Riviera Francesa, que será inaugurado nesta quarta-feira. De Janela Pro Cinema, de Quiá Rodrigues, selecionado para a mostra do Cinéfondation, e Rota de Colisão, de Roberval Duarte, integrante da Quinzena dos Realizadores. De Janela Pro Cinema já foi convidado para abrir as sessões, precedendo a projeção de longas-metragens estrangeiros, nos cinemas da rede Severiano Ribeiro.

Espaço de Direito
Só que os selecionados de Cannes representam exceções no mercado de curta-metragem no País, onde a categoria fica restrita ao universo dos festivais. Algumas iniciativas isoladas, como a do Curta às Seis, de São Paulo, e a do Curta nas Telas, de Porto Alegre, tentam aproximar o formato do grande público, agrupando títulos em sessões especiais. Mas a maior parte dos filmes não consegue chegar às telas.

Para garantir espaço aos curta-metragistas, alguns defendem a volta da lei 6281/75, que deixou de ser aplicada com a extinção da Embrafilme e do Concine no início dos anos 90. A lei exigia que os exibidores passassem antes de cada longa-metragem estrangeiro um curta nacional, garantindo ao curta-metragista 5% da bilheteria. A deputada Esther Grossi (PT) briga desde 1997 pelo cumprimento da lei. "Atualmente estou providenciando um parecer de assessoria júridica para entregar ao Ministério da Cultura, provando que a lei continua em vigência. Queremos que o governo a faça valer", diz Grossi. "Os curta-metragistas até estão dispostos a renegociar a porcentagem que eles recebem da bilheteria."

José Álvaro Moisés, secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, diz que a lei foi esquecida pela falta de organismos para fiscalizá-la. Mas ele não acredita que a sua reedição seja a escolha mais acertada para garantir a entrada dos curtas nos cinemas. "É preciso descobrir uma forma mais palatável, algo que não apele à obrigatoriedade. O tiro pode sair pela culatra. O espectador não gosta de ter de engolir algo que não pagou para ver."


Distribuidores malandros
O curta-metragista Roberval Duarte, que estará em Cannes para promover Rota de Colisão, discorda. "O espectador começou a criar resistência ao curta quando o formato passou a ser produzido pelos próprios distribuidores que não queriam ter de dividir a bilheteria com o curta-metragista. Nos anos 70 e 80, eles exibiam qualquer coisa só para cumprir a lei." O diretor Quiá Rodrigues comenta que a repercussão dos curtas brasileiros dentro e fora do País prova que a produção tem qualidade.

"Alguns têm mais facilidade de estabelecer uma empatia com o público, como De Janela Pro Cinema, que cativa a platéia por homenagear os clássicos das telas. Mas cada curta, a seu modo, tem encontrado uma forma de vencer as barreiras." O projeto Curta às Seis, que ficou um ano em cartaz no Espaço Unibanco de Cinema, é um exemplo de iniciativa bem-sucedida. Depois de atrair 32 mil expectadores em sua primeira edição, o projeto patrocinado pelo Unibanco volta ao cinema em junho - tendo sido novamente aprovado pela Lei Mendonça.

O Curta às Seis, que totalizou 24 sessões com quatro filmes cada, conseguiu em média atingir 80% da capacidade da sala. Sempre com a entrada franca. "O formato vem reconquistando o público", afirma Ademar Oliveira, diretor de programação do Espaço Unibanco, que desenvolve mais três projetos nos moldes de Curta às Seis para Juiz de Fora, Fortaleza e Rio de Janeiro. Ainda que o diretor defenda a exibição do curta nos cinemas, ele não concorda com a volta da lei.

"Prefiro as soluções mais democráticas. Uma boa alternativa seria pensar em incentivos aos exibidores. Não dá para impor uma situação sem oferecer nada em troca."(
Agência Estado)



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