Festival de Gramado 98

Duas obras na contracorrente

Dos 14 filmes concorrentes aos Kikitos da categoria longa-metragem seis eram de estreantes, diretores sem obra, sem passado cinematográfico.

Entre os oito restantes, o 26º Festival de Gramado incluiu na competição dois nomes destacados, o mexicano Jaime Humberto Hermosillo, de De Noche Vienes Esmeralda, e o português Paulo Rocha, de O Rio do Ouro.

Donos de uma obra internacionalmente reconhecida e situada entre as mais pessoais do cinema contemporâneo, Hermosillo e Rocha são itens para aficionados. Mas seus filmes são desconhecidos no Brasil. Isso, entretanto, não tira a importância e o relevo desses dois nomes que, de certo modo, se colocam na contra-corrente do cinema atual.

Ambos são realizadores que não facilitam a vida do espectador. Exigem para seus filmes maior atenção do que aquela requerida para quem apenas conta uma história. Hermosillo e Rocha experimentam com a linguagem cinematográfica. De Noche Vienes Esmeralda e O Rio do Ouro mostram isso.

Eles fogem do feijão-com-arroz de um tipo de filme que se parece com especiais para a tevê ou com videoclipes espichados capazes de torrar a paciência do espectador, cinéfilo ou não. Percebe-se nas travessuras casamenteiras de Esmeralda – a extraordinária María Rojo – a mesma provocação de títulos clássicos da carreira de Hermosillo, como La Tarea ou La Tarea Prohibida.

Em Paulo Rocha esse provocativo estranhamento assume a aparência de um filme musical. As canções populares criadas às margens do Rio Douro são utilizadas como costura dramática para uma trágica história de amor e ambição.

O cuidado com a função dramática do plano e com o poder pictórico das imagens fazem de O Rio do Ouro um produto estranho, que se não chega a se concretizar plenamente, mostra os elementos que celebrizaram o realizador. Contar com uma seleção de filmes em que figuraram os nomes de Hermosillo e Rocha gratifica qualquer cinemaníaco. (Agência RBS)