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Festival de Gramado

1997

Marcos Winter está em Lua de Outubro, longa gaúcho que será exibido fora da competição no festival deste ano (foto Banco de Dados/ZH)

Ao chegar aos 25 anos, o Festival de Gramado se mostra ainda e sempre inquieto. Ele não sossega. Das primeiras edições realizadas no verão, em busca de sol para que as estrelinhas dos anos 70 mostrassem seus melhores atributos, ele atingiu a fase invernal, em que a austeridades dos abrigos de pele e dos casacões impede qualquer exibicionismo. Entre essas duas estações, houve uma transição outonal. De unicamente brasileiro – como se manteve até 1990 – ele se transformou em latino, aceitando filmes de diversos países de línguas de raiz latina. Em 1996, uma competição brasileira passou a integrar novamente o evento, mostrando que a produção nacional de filmes se recupera. Aos poucos. Espera-se agora, ansiosamente, pela primavera.

Mesmo fora da competição, a presença em Gramado/97 de duas produções gaúchas é um fato entusiasmante. Lua de Outubro, de Henrique de Freitas Lima, na abertura, e Anahy de las Misiones, no encerramento, são filmes que foram feitos com as dificuldades comuns a um cinema nacional que está sempre começando. Depois dos tempos de fartura da Embrafilme, que deu no que deu – Fernando Collor & Cia. –, em bases mais reais, mas mesmo assim não sem desvios desnecessários, chega-se a uma modesta proposta de cinema brasileiro, realista mas não sem gigantismo de idéias. Os dois filmes gaúchos são um exemplo de uma intenção de aproveitar as possibilidades do Mercosul e, espera-se, deverão colher os frutos desse pioneirismo.

Se a seleção oficial de Gramado, no que diz respeito aos filmes latinos, é um tanto quanto amorfa – atenção: dois dos títulos em concurso são extraordinários: Bajo la Piel, de Francisco Lombardi (Peru), e La Línea Paterna, de José Buil (México) –, a competição brasileira mostra-se mais promissora. Ela inclui Bocage, O Triunfo do Amor, de Djalma Limongi Batista, For All – Trampolim da Vitória, de Buza Ferraz e Luiz Carlos Lacerda, e Os Matadores, de Beto Brandt. Só a possibilidade de assistir a esses sete filmes já deveria entusiasmar qualquer cinemaníaco de carteirinha em busca de sete dias de bom cinema. Ou de programas provocativos, bem longe do costumeiro já visto, que ronda a produção internacional e nacional dos anos 90.

Os 25 anos do Festival de Gramado também não deverão ser passados em branco pelas classes dirigentes. O governo do Estado deverá anunciar a criação de um pólo cinematográfico no Rio Grande do Sul, à maneira dos existentes em Brasília, no Ceará, no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e até no Pará (alguém ouviu falar algo deste último?). Espera-se apenas que o pólo gaúcho sobreviva tão bem às mudanças de governo quanto Gramado tem se mostrado resistente à troca de prefeitos. Os partidos que têm se alternado na prefeitura de Gramado procuraram preservar essa obra construída ao longo de 25 anos, e que tem ajudado a manter o renome nacional e internacional da cidade. Como pólo turístico e, eventualmente, cultural.

VOLTA

Veja os vencedores do Festival de Gramado em 97

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