Festival de Gramado 98

Nasce o neo-realismo fantástico

A exibição de O Toque do Oboé no primeiro dia do 26º Festival de Gramado é o resultado dos esforços de Cláudio MacDowell, 52 anos, produtor e diretor, autor do argumento e roteirista do filme, além de co-autor da montagem.

Feito em co-produção com o Paraguai, o longa foi rodado nas cidades paraguaias de Piribeuí, Paraguari e Pirayú. Nasceu de uma história proposta por MacDowell e pelo paraguaio Hugo Gamarra no curso de roteiros de Gabriel García Márquez, realizado na Escola de Cinema de San António de los Baños (Cuba).

"A produção chegou a ficar parada por um ano, em 1996, quando faltou dinheiro para filmar as seqüências de multidão, que eu achei que os extras fizessem por amor", diz o diretor, que nos anos 70 assinou pornochanchadas como Quando as Mulheres Querem Provas.

Por amor ao cinema

A trama gira em torno de um músico que toca oboé (Paulo Betti) e viaja a uma cidadezinha perdida no interior do Paraguai. O lugar tem um cinema que está fechado há muitos anos por falta de quem acompanhe com música os filmes mudos que a dona da sala possui. Ele é convidado a fazer o fundo musical para as sessões de cinema.

"Aconteceu uma coisa curiosa. Na ocasião em que O Toque do Oboé ficou pronto, estava reabrindo uma velha sala de bairro no Meyer, e me convidaram para passar o filme em uma sessão especial", conta MacDowell. "Foi emocionante ver o filme repetir, à sua maneira, uma situação real".

Para MacDowell, seu filme reúne elementos do neo-realismo italiano misturado com um toque de comédia e do realismo fantástico latino-americano. "Inventei a expressão neo-realismo fantástico para definir meu filme, a fim de acabar com todos os questionamentos quando me perguntam o gênero", afirma.

Dois atores argentinos, Letícia Vota e o veteraníssimo Mario Lozano, compartilham o elenco de O Toque do Oboé com Paulo Betti e os atores paraguaios. A trilha sonora é de Wagner Tiso e a fotografia vem assinada por Toca Seabra. (Agência RBS)