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Homenagem
a Elia Kazan provoca protestos |
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Aos 89 anos, Elia
Kazan vai subir ao palco do Dorothy Chandler Pavilion para receber
o Oscar honorário pelo conjunto da obra. A premiação
tenta dissociar do grande diretor de Um Bonde
Chamado Desejo, A Leste do Éden
e
Sindicato de Ladrões a marca que o persegue desde os
tempos do macarthismo. Feroz campanha anti-comunista desencadeada pelo
senador Joseph McCarthy na década de 50, no auge da Guerra Fria,
o macartismo atirou para todos os lados e levou à falência
e ao desespero artistas, produtores e intelectuais que entravam na "lista
negra" por supostas relações com o comunismo.
Pressionado
pelo nefasto Comitê de Atividades Anti-Americanas, Kazan acabou
delatando oito de seus companheiros da companhia nova-iorquina Group Theather,
incluindo o dramaturgo Clifford Odets e a atriz Paula Strassberg. A delação
permitiu que o diretor continuasse produzindo verdadeiras obras-primas,
mas garantiu também o exílio moral imposto pelos membros
da comunidade cinematográfica.
Se obra e caráter são coisas distintas,
o ator Karl Malden tratou de estabelecer as diferenças fazendo
um discurso emocionado ao comitê diretor da Academia de Artes e
Ciências Cinematográficas de Hollywood,
que inclui o ator Gregory Peck, o executivo Lew Wasserman e o produtor
Saul Zaentz. Malden, que ganhou o Oscar de melhor
ator coadjuvante por Sindicato de Ladrões, intercedeu
por Kazan destacando sua imensa contribuição para o cinema.
"Não aplaudam Kazan!"
Depois de tanto tempo, o passado de Kazan continua despertando discussões
acaloradas em Hollywood. Há dois anos,
seus detratores conseguiram impedir que que a Associação
de Críticos de Cinema de Los Angeles homenageasse o diretor por
sua obra.
O
reconhecimento da Academia já está provocando protestos.
Cerca de 30 pessoas estão organizando uma manifestação
contra o prêmio no sábado que antecede a entrega do Oscar,
dia 20 de março. O Comitê Contra
o Silêncio agrega antigos membros da "lista negra",
como o roteirista da primeira versão de Além
da Linha Vermelha em 1964, Bernard Gordon.
Em um comunicado distribuído à imprensa, o comitê
coloca o protesto como "uma forma de demonstrar desaprovação
pela insensibilidade e falta de consciência da Academia. Não
se levantem e não aplaudam Kazan. Sentem sobre suas mãos.
Deixem que os espectadores ao redor do mundo saibam que existem algumas
pessoas em Hollywood, alguns americanos, que não apóiam
delatores".
Os convidados para a cerimônia costumam aplaudir de pé os
homenageados pelo Oscar honorário, como na emocionada ovação
a Charles Chaplin em 1972, cinco anos antes de sua morte. No
dia 21 de março, a redenção de Kazan diante de bilhões
de espectadores dirá se o tempo curou a mágoa que a América
ainda parece sentir de um de seus maiores cineastas.
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