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Festival de Gramado 98

Ser ou não ser latino e brasileiro, eis a questão

As duas últimas noites do 26º Festival de Gramado garantiram o cenário ideal para se discutir o futuro do evento .

Houve quem diagnosticasse uma crise de identidade que se arrasta desde o início dos anos 90. O efeito Collor detonou a Embrafilme e emperrou as moviolas do cinema brasileiro por bons três ou quatro anos. Para garantir a sobrevivência e um mínimo de programação, Gramado voltou sua hospitalidade para os realizadores latinos.

A convivência teria se tornado difícil. Nas edições de 1996 e 1997, havia mostras separadas para longas nacionais e latinos. Resultado: público e mídia se concentravam nos filmes brasileiros, com a curiosidade e a pauta aquecidas pela presença de atores globais. A mostra latina passava batida.

Este ano, a grana curta falou mais alto. O festival juntou as competições para, aparentemente, reduzir custos. Acabou reduzindo o interesse.

Teria também esfriado a competição. É só lembrar das barulhentas edições realizadas no ainda Cinema Embaixador. A presença maciça de realizadores brasileiros garantia o clima de festival, algo que, este ano, se viu apenas durante a exibição dos Super-8 e curtas gaúchos.

Quase todos os filmes que fechavam as noites perdiam em público para o saguão do Palácio dos Festivais. Algumas premières (uma ótima idéia da organização do festival) conseguiram mais público que a maioria dos vencedores de sábado à noite. As reprises dos filmes, abertas ao público, tiveram uma platéia média de 80 pessoas.

Qual seria o final (ou recomeço) feliz para o Festival de Gramado? Talvez aproveitar a retomada da produção cinematográfica brasileira e dividir novamente a competição (o maior número de concorrentes nacionais implicaria uma redução de qualidade média, mas levantaria o índice de polêmica e bafafá). A mostra latina poderia ganhar fôlego com a presença maior de filmes inéditos (Pizza, Birra, Faso, Plaza de Almas, De Noche Vienes Esmeralda chegaram premiados de outras mostras).

Algumas idéias já existem. Transformar o Festival de Gramado em uma fundação, por exemplo, poderia facilitar a captação de recursos. Cabe à organização do evento exercitar algo que não faltou nas telas durante os últimos dias: imaginação. E lembrar do que ensinou Domingos Oliveira em Amores: não existe apenas um final feliz.(Renato Mendonça - Agência RBS)


  

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