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"É Tudo Verdade" traz pesquisa que elege os mais importantes documentários nacionais


Este ano a Retrospectiva Brasil do É TUDO VERDADE - FESTIVAL INTERNACIONAL DE DOCUMENTÁRIOS, que acontece de 6 a 16 de abril, em salas do Rio de Janeiro e São Paulo, promoveu uma consulta junto a críticos, pesquisadores, cineastas e outros profissionais ligados ao gênero. O levantamento teve por objetivo apontar os dez mais importantes títulos documentais da cinematografia nacional.

A seleção inclui o mais premiado documentário feito no país, CABRA MARCADO PARA MORRER (Eduardo Coutinho), filme iniciado em 1964, interrompido pelo
Golpe Militar daquele ano, e só concluído vinte anos depois.

Participam cineastas como Joaquim Pedro de Andrade (com o pioneiro GARRINCHA, ALEGRIA DO POVO), Leon Hirszman (com a trilogia IMAGENS DO INCONSCIENTE), Silvio Tendler (JANGO) e Vladimir Carvalho (com O PAÍS DE SÃO SARUÊ, proibido por mais de uma década).

Títulos clássicos do curta-metragem brasileiro também estão presentes: ARUANDA (Linduarte Noronha), marco inicial do movimento Cinema Novo, VIRAMUNDO (Geraldo Sarno), ILHA DAS FLORES (Jorge Furtado), premiado no
Festival de Berlim, e MATO ELES? (Sérgio Bianchi).

Um título não será projetado: DI (Glauber Rocha), premiado em Cannes. DI, que focaliza o velório e enterro do pintor Di Cavalcanti, tem sua exibição
pública interditada por medida judicial a pedido da família do pintor.

Veja lista dos filmes escolhidos.
Clique para conferir sinopse

ARUANDA - Linduarte Noronha (PB), 1960
CABRA MARCADO PARA MORRRER - Eduardo Coutinho (RJ), 1984
DI - Glauber Rocha (RJ), 1977
GARRINCHA, ALEGRIA DO POVO - Joaquim Pedro de Andrade (RJ), 1963
ILHA DAS FLORES - Jorge Furtado (RS), 1989
IMAGENS DO INCONSCIENTE - Leon Hirszman (RJ), 1986
JANGO - Silvio Tendler (RJ), 1984
MATO ELES? - Sérgio Bianchi (SP), 1983
O PAÍS DE SÃO SARUÊ - Vladimir Carvalho (PB), 1971
VIRAMUNDO - Geraldo Sarno (SP), 1965


ARUANDA - Linduarte Noronha (PB, 20 min, 1960): Os quilombos marcaram época
na história econômica do Nordeste canavieiro. A luta entre escravos e
colonizadores terminava, às vezes, em episódios épicos, como Palmares. Olho
d'Água da Serra do Talhado, em Santana do Sabugi (PB), surgiu em meados do
século passado, quando o ex-escravo e madeireiro Zé Bento partiu com a
família à procura da terra de ninguém. Com o tempo, Talhado transformou-se
num quilombo pacífico, isolado das instituições do país, perdido nas
lombadas do Chapadão nordestino, com uma pequena população presa a um ciclo
econômico trágico e sem perspectivas, variando do plantio de algodão à
cerâmica primitiva, vendida na feira ao pé da serra.
"Aruanda é a melhor prova da validade, para o Brasil, das idéias que prega
Glauber Rocha: um trabalho feito fora dos monumentais estúdios que resultam
num cinema industrial e falso, nada de equipamento pesado, de rebatedores de
luz, de refletores, um corpo a corpo com uma realidade que nada venha a
deformar, uma câmera na mão e uma idéia na cabeça apenas. O que fazer?
Aruanda o dizia." (Jean-Claude Bernardet)

CABRA MARCADO PARA MORRER - Eduardo Coutinho (RJ, 119 min, 1984): A feitura
de um filme ficcional, interrompido nos anos 60, pretendia focalizar o
assassinato de um líder camponês, João Pedro Teixeira, morto em 1962. Vinte
anos depois, o cineasta recompõe a partir da trajetória da viúva deste, a
própria trajetória do país sob o regime militar. Um resumo de duas épocas, o
longa colocou na tela os problemas dos sem-terra, dos perseguidos políticos,
de uma família vítima da intolerância e a violência dos poderosos. Melhor
Filme, Cinéma du Réel 85; Tucano de Ouro (melhor filme), Prêmio da Crítica,
Prêmio OCIC e Prêmio D. Quixote, Festival Internacional do Rio de Janeiro
(FestRio) 84.
"A picada que o filme abre, a meu ver, não é tanto o fato de a equipe
aparecer - isto se faz muito. O importante, a meu ver, é que certas
informações de texto e de estrutura do filme servem para indicar as
condições de produção da "verdade". Quer dizer, hoje as pessoas falam dessa
maneira, numa determinada situação; no dia seguinte, de surpresa, podem
falar de outra maneira." (Eduardo Coutinho)

DI - Glauber Rocha (RJ, 17 min, 1977): Ao tomar conhecimento da morte do
amigo e pintor Emiliano Di Cavalcanti, o cineasta vai com sua equipe de
filmagem para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde o corpo do
artista está sendo velado, e dirige um filme onde manifesta sua
perplexidade, sua indignação e seu impulso poético. No filme, Glauber
intercala partes do seu discurso apaixonado com trechos de uma crítica de
Frederico de Morais e do poema Balada de Di Cavalcanti, de Vinícius de
Moraes. Prêmio Especial do Júri, Festival de Cannes 77. Medida judicial
mantém interditada a exibição pública do documentário, a pedido da família
do pintor.
"Quando Di morreu, eu apenas improvisei em cima de fatos. Como eu estava
duro, pedi a vários colegas cineastas pedaços de filmes virgens, chegando a
juntar 800 metros de colorido. Peguei também uma câmara emprestada do Nelson
Pereira dos Santos.[...] Fui ao velório, no Museu de Arte Moderna e ao
enterro, no São João Batista. Dirigi o fotógrafo Mário Carneiro na tomada
das cenas. Aí já estava decidido a fazer um filme sobre a morte de Di. Uma
homenagem de amigo para amigo. As poucas pessoas que estavam lá ficaram
chocadíssimas, claro. Diziam que eu estava tumultuando o enterro, estava
profanado um ato católico. Não é nada disso. Meu filme é um manifesto contra
a morte. Da morte nasce a vida. Di era um homem alegre, um homem que, com
toda a certeza, também gostava de enterros. E eu quis, além de prestar-lhe
uma homenagem, contestar os princípios fundamentais da lógica." (Glauber
Rocha)

GARRINCHA, ALEGRIA DO POVO - Joaquim Pedro de Andrade (RJ, 70 min, 1963):
Tratando o futebol como fenômeno social, o documentário mostra a beleza do
jogo do ídolo, o sofrimento e a euforia de torcedores, e denuncia usos
políticos da paixão popular pelo esporte. Prêmio Carlos Alberto Chieza,
Festival de Cortina D'Ampezzo, Itália 64.
"Quando cheguei de volta do curso (de cinema direto com os irmãos Maysles)
o Luis Carlos Barreto me convidou para dirigir um documentário sobre o
Garrincha que ele estava preparando com o Armando Nogueira. Fiz com um
equipamento que não era de cinema direto. Ficou mais um filme de montagem,
de arquivo, que um documentário direto". (Joaquim Pedro de Andrade)

ILHA DAS FLORES - Jorge Furtado (RS, 13 min, 1989): Qual a produção mundial
de tomates? Como se mede um segundo? Quantas galinhas valem uma baleia? Como
se fabrica perfume? Quem foi Mem de Sá? Essas e outras perguntas serão
respondidas neste ensaio dialético-cinematográfico sobre o planeta Terra e
seus habitantes. Melhor Curta, Roteiro, Montagem e Prêmio da Crítica,
Gramado 89; Urso de Prata, Berlim 90; Prêmio do Público na Competição "No
Budget", Hamburgo 91; Prêmio Crítica e Público, Clermont Ferrand 91.

IMAGENS DO INCONSCIENTE - Leon Hirszman (RJ, 1986):
1. Em Busca do Espaço Cotidiano (Fernando Diniz) (80 min)
Fernando Diniz, filho de uma empregada doméstica baiana, busca recuperar um
espaço cotidiano sob a forma de um quadro - é a pintura em luta constante
contra o caos, um caos vivenciado numa questão de amor, uma questão de
paixão. Fernando submerge como uma auto-defesa para viver no inconsciente,
mas não é um grande mergulho, é algo mais no nível do cotidiano.
2. No Reino das Mães (Adelina Gomes) (55 min)
Adelina Gomes, moça pobre, filha de camponeses, com o curso primário e
alguma formação manual, tímida e submissa à mãe, nunca havia namorado até os
18 anos de idade. Aí apaixonou-se por um homem que não foi aceito pela mãe.
Sujeitou-se e foi, aos poucos, se retraindo até que um dia estrangulou a
gata, da qual gostava muito. Matando a gata, Adelina se negava como mulher,
refugiando-se na loucura com grande agressividade.
3. A Barca do Sol (Carlos Pertuis) (70 min)
Nise da Silveira a descreve assim: "Carlos, há vários anos, vinha sendo
dilacerado por conflitos pessoais. Esses conflitos sugavam a energia do ego
que ia se enfraquecendo e já começava a vacilar. Certa manhã, raios de sol
incidiram sobre o pequeno espelho do seu quarto. Brilho extraordinário que
deslumbrou-o e surgiu diante dele uma visão cósmica: o "Planetário de Deus",
segundo suas palavras. Gritou, chamou a família, queria que todos vissem
também aquela maravilha que ele estava vendo. Foi internado no mesmo dia no
velho hospital da Praia Vermelha. Isso aconteceu em setembro de 1939. Carlos
tinha então 29 anos". Sua mãe recomendou o internamento, e ele ficou lá o
resto da vida.
"Imagens do Inconsciente aborda três histórias de vida, três casos
clínicos. Procurei uma linguagem cinematográfica que permitisse narrar os
filmes a partir dos próprios trabalhos pintados pelos artistas. Em um
processo seletivo, as obras - que expressam o mundo interior do artista -
vão revelando as idas e voltas da consciência e a sua despotencialização.
Quando a pessoa se despotencializa põe para fora, na pintura, os fantasmas
que estavam dentro dela. Despotencializadas, permitem que as forças
autocurativas se manifestem." (Leon Hirszman )

JANGO - Silvio Tendler (RJ, 117 min, 1984): O filme retrata a vida política
brasileira dos anos 60, tendo como fio condutor a biografia do presidente
João Goulart. Sua ascensão e queda, até a morte no exílio, é reconstituída a
partir de material de arquivo e entrevistas com Ministro Afonso Arinos de
Melo Franco, Raul Ryff, General Antonio Carlos Muricy, Leonel Brizola, Celso
Furtado, Frei Betto, entre outros.
"Desde o início eu sabia que ia fazer um filme simpático ao Goulart, tanto
que não tive o menor problema em procurar documentos com sua família. Olha,
houve um momento durante a feitura do filme que a idéia do Maurício Dias, o
autor do texto, era cobrar a incompetência da esquerda. Eu disse francamente
para ele que ele era livre para abandonar o filme "porque eu não estava a
fim de dar um pau na esquerda". A esquerda leva pau há 20 anos." (Silvio
Tendler)

MATO ELES? - Sérgio Bianchi (SP, 33 min, 1983): Uma corrosiva denúncia sobre
a reserva de Mangueirinha, Sudoeste do Paraná, onde vivem os remanescentes
das três tribos indígenas (Kaigang, Guarani, Xetá). A FUNAI, que instalou
uma micro-empresa e desmatou metade da reserva. A outra metade foi cedida a
uma indústria madeireira pelo Governo Estadual e encontra-se em litígio. A
área em questão abriga a última reserva de pinheiro araucária do sul do
Brasil.
"É o filme mais "percutant" sobre a questão dos índios: denuncia as
violências de que são vítimas, a violação de suas terras, os assassinatos
dos líderes e denuncia também aqueles que afirmam, sinceramente ou não,
estarem interessados nos índios. Um filme que interdita toda forma de boa
consciência face ao genocídio que se estende por séculos: a ironia ácida de
"Mato Eles?" nos impede mesmo da segurança da comiseração". (Jean-Claude
Bernardet)

O PAÍS DE SÃO SARUÊ - Vladimir Carvalho (PB, 90 min, 1971): Com a extinção
da nação Cariri pelos colonizadores, os índios perderam suas terras nos
sertões do Nordeste, há quase três séculos. No início dos anos 70,
registra-se, uma espécie de renascimento, com a exploração de novos
minérios. A antiga cultura pastoril, a rusticidade dos costumes, os campos
lavrados sol a sol, a folgaça do Bumba-Meu-Boi definham e convivem
melancolicamente com outras formas de vida trazidas pelo rádio, cinema e
televisão.
"A cadência do poema, uma forma próxima do épico, antiga, grega (também
sertaneja) de se narrar a História, marca todo o longo prólogo, como uma voz
da Terra, um monólogo do Sertão, e só desaparece totalmente na segunda
metade do filme, quando passa a predominar o som das entrevistas. O ritmo
andante dos versos de Jomar Souto, à medida que o filme avança, cede lugar à
narração, que por sua vez é, aos poucos, substituída pela fala dos
entrevistados." (Vladimir Carvalho)

VIRAMUNDO - Geraldo Sarno (SP, 40 min, 1965): A migração de nordestinos para
o Estado de São Paulo e os problemas gerados pela inadaptação na sociedade
industrial. Um dos episódios da série clássica "Brasil Verdade", produzida
por Thomas Farkas. Prêmio Cinema Novo, Festival Internacional do Filme do
Rio de Janeiro 65; Menção Honrosa, I Semana do Cinema Brasileiro, Brasília
65; Grande Prêmio, Evian, França 66; Melhor Documentário, Viña del Mar,
Chile 66; Melhor Documentário, Festival de Cinema Independente, Uruguai 67.


 

 

 

 


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