As primeiras cenas de Urbania explicam o que vem pela frente. Ao som do sucesso de Wanderléa Prova de Fogo, um velho (Turíbio Ruiz) e seu motorista (Adriano Stuart) se aproximam da metrópole São Paulo, como aceitando o desafio dos versos “Você vai dizer, se gosta de mim”.Nos 70 minutos de filme, os dois percorrem a periferia e bairros decadentes da capital paulistana, misturando ficção e documentário, fazendo um retrato da cidade grande e das pequenas tragédias pessoais.
O diretor Flávio Frederico, carioca radicado há 20 anos em São Paulo, explica que o longa Urbania faz um paralelo com seu curta Copacabana, exibido em Gramado dois anos atrás. Em Copacabana, os personagens eram a cidade e seus habitantes durante o Revéillon, glamourosos ou não, retratados numa bela fotografia em preto-e-branco. Urbania é um filme colorido, registrando 24 horas da relação entre os dois homens e São Paulo.
Turíbio interpreta um velho cego, com uma história deliberadamente mal-contada, que teria tido um período de apogeu nos anos 50 e teria abandonado sua mulher na capital ao rodopiar na falência. Stuart é um um motorista gaiato, um contraponto povão à aristocracia decadente de seu patrão. Na sua jornada pela metrópole, eles se debatem especialmente entre o bairro de Campos Elíseos, povoado de casarões em ruínas e onde o velho teria morado, e a Boca do Lixo, recanto da boemia e berço das pornochanchadas na década de 70.
Entremeadas com a jornada dos dois, cenas de telejornais, trechos de filmes como São Paulo S/A, de Luiz Sérgio Person, e Noite Vazia, de Walter Hugo Khouri, uma trilha sonora que mistura rap e trechos de programas de rádio falando de trânsito, de violência, mas também músicas de Mário Manga, ex-Premeditando o Breque, tocadas por cello, piano e viola. Tudo em seu luagr, como explica Flávio:
– A confusão entre fantasia e realidade é proposital. Usamos os dois personagens ficionais para descobrir também os personagens reais de São Paulo.